Título: Bachelet assume o poder no Chile
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2006, Internacional, p. A26

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá hoje o seu primeiro encontro com Michelle Bachelet, logo depois de sua posse como presidente do Chile, no balneário de Valparaíso, a 120 quilômetros de Santiago e onde se localiza a sede do Legislativo chileno. Bachelet, eleita em janeiro, assumirá uma administração em sintonia com a anterior, de Ricardo Lagos. Desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990, a Concertação de Partidos para a Democracia, de centro-esquerda, governa o Chile.

Lula desembarca hoje no Chile às 11 horas, acompanhado pelo recém-eleito presidente do Haiti, René Préval, a quem ofereceu carona de Brasília à Base Aérea de Viña del Mar, no Chile (ler ao lado). Ambos seguirão diretamente para a sede do Senado chileno, onde se dará a cerimônia oficial de posse de Bachelet.

Logo depois, entrarão num ônibus com outros 18 chefes de Estado e governo presentes à posse para o Palácio Presidencial de Cerro Castillo, onde a nova presidente lhes oferecerá um almoço. O encontro com Lula se dará a seguir, às 15h30.

Antes de partir, às 17h40, Lula se reunirá com os primeiros-ministros do Marrocos, Driss Jetou, e da Nova Zelândia, Helen Clark, em Viña del Mar.

Atualmente, Chile e Brasil têm mais em comum em suas iniciativas na área internacional que dilemas a resolver no âmbito bilateral. As relações comerciais estão cobertas quase totalmente pelo acordo de livre comércio entre o Chile e o Mercosul e corre, desde novembro, uma negociação para liberalização do setor de serviços. A troca de bens entre os dois países, em 2005, soma US$ 5,311 bilhões, com superávit de US$ 1,912 bilhão para o Brasil.

Em comum, Lula e Bachelet terão de enfrentar a valorização de suas moedas, o real e o peso, fator que inibe exportações e gera gritaria no setor empresarial. Mas, com exceção do compromisso de reduzir a desigualdade social, Bachelet não terá outro tema mais quente para tratar.

A economia está estabilizada, com crescimento de 6% ao ano, inflação de 3,7%, taxa de investimento de 29,3% do Produto Interno Bruto (PIB) e superávit nas contas públicas de 4,8% do PIB no ano passado.

Sua preocupação será impor sua marca de governo na atuação política, já sinalizada com a nomeação de técnicos para seu ministério - que tem igual proporção entre homens e mulheres.

Em princípio, Bachelet deverá acentuar a parceria de seu país com o Mercosul e o compromisso com a integração sul-americana - o que deverá contentar Lula. Da mesma forma, tenderá a preservar a associação do Chile ao G-20, o grupo de economias em desenvolvimento que pretende obter a abertura dos mercados agrícolas.