Título: No Amazonas, médico rema em barco alugado
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2006, Vida&, p. A32

Nos 46 municípios cobertos pelo PSF no Amazonas, médicos, enfermeiros, dentistas e agentes usam barcos para chegar aos pacientes. Segundo a coordenadora do programa, Edilene Pereira, nenhum é equipado para o atendimento. "São barcos alugados pelas prefeituras, sem estrutura. Contamos com a boa vontade dos médicos, que muitas vezes são os comandantes das embarcações, assumem o timão e até remam."

No Estado, onde a cobertura do PSF atinge 46,7% da população, não há médicos em 16 municípios. A falta de dentistas atinge 40 cidades. "Em muitos lugares, os únicos médicos são os do programa que não fazem só o atendimento básico, mas partos e outras cirurgias", diz Edilene.

É o caso de Tapauá, a 450 km de Manaus. Segundo a coordenadora na cidade, Nalu Pinheiro, o único dentista, os seis enfermeiros e os seis médicos da cidade são do PSF. "Se estão em férias, não há substituto."

Segundo Nalu, a maior dificuldade é com o transporte em barcos. "Mais de 70% da população mora em área rural, em comunidades muito afastadas. Na seca, ficam isolados e, na cheia, suas casas ficam alagadas e aparecem mais doenças."

Em Manaus, as dificuldades estão na falta de estrutura da maioria dos postos de 40 metros quadrados onde ficam as equipes. "Para dar mais conforto aos pacientes, comprei um ar-condicionado e instalei aqui", conta a médica Caroline Amorim, de 28 anos. Segundo ela, sua maior frustração é encaminhar pacientes com câncer para hospitais e recebê-los de volta, desesperançados sem vaga para tratamento.