Título: 58 anos depois da campanha, o petróleo é nosso
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2006, Economia & Negócios, p. B4,5

Criação da Petrobrás, em 1953, foi o primeiro passo para auto-suficiência

Foi a partir de 1953, com a criação da Petrobrás, que a extração de petróleo no Brasil tomou impulso para crescer rumo à auto-suficiência. Porém, já faz mais de 100 anos que foram dados os primeiros passos para a sua exploração: no fim do século 19, surgiram os primeiros estudos sobre exploração no País e a cidade de Bofete (SP) aparece como o primeiro local onde houve perfurações.

Com a chegada de multinacionais exploradoras ao País, na década de 30, a atividade voltou a ser discutida e, em 1934, o então presidente Getúlio Vargas criou o Departamento Nacional de Produção Mineral. Um dos principais defensores da nacionalização de bens do subsolo foi o escritor Monteiro Lobato. Além dos diversos textos e cartas que escreveu sobre o assunto, o petróleo foi incluído nas aventuras do Sítio do Picapau Amarelo, no livro infanto-juvenil O Poço do Visconde, publicado em 1937.

A partir de 1950, após a descoberta de petróleo na Bahia, a campanha O Petróleo é Nosso ganhou força. Tanta que, três anos depois, nasceu a Petrobrás. No primeiro ano de funcionamento, a empresa extraía 2,6 mil barris de petróleo por dia - valor quase 700 vezes inferior ao que é produzido hoje - e havia apenas duas refinarias no Brasil: Mataripe (BA) e Manguinhos (RJ).

O grande salto deu-se duas décadas depois, com a descoberta da Bacia de Campos, fruto da insistência do geólogo Carlos Walter Marinho Campos. Recém-chegado de uma viagem ao Oriente Médio, Campos encontrou em sua mesa ordens para suspender a perfuração de um poço na região, que não havia encontrado nada.

O executivo lembrou então que Irã e Iraque produziam petróleo encontrado em rochas calcárias, abaixo dos 5 mil metros do fundo do mar. O poço pioneiro estava a 200 metros dali e Campos ordenou que sua equipe continuasse a perfuração, encontrando os primeiros indícios de óleo na região e justificando novos investimentos.

O primeiro campo comercial encontrado na região foi Garoupa, em 1974, ainda sob desconfiança de gente de dentro e de fora da empresa. "Se me perguntassem, na época, se a Bacia de Campos iria produzir mais de 1 milhão de barris por dia, eu diria que era impossível", afirma hoje o geólogo Giuseppe Bacoccoli, que trabalhava na estatal no início da bacia.

Com o avanço da tecnologia e a descoberta de campos gigantes em águas profundas a partir dos anos 80, a bacia concentrou os principais investimentos da estatal e hoje é responsável por cerca de 85% do petróleo produzido no País.

Em 1997, o Brasil ainda produzia menos de 60% do petróleo consumido no País. Cerca de US$ 6,5 bilhões foram gastos com a importação de barris naquele ano. Daí em diante, a relação produção/consumo foi se tornando cada vez mais equilibrada. Em 2003, no aniversário de 50 anos da Petrobrás, eram produzidos 1,590 milhão de barris por dia, enquanto 1,8 milhão eram consumidos.

O consumo brasileiro, por ser até então dependente do produto importado, passou por diversas oscilações, já que os preços praticados pelos países exportadores afetavam os preços no Brasil. Sendo auto-suficiente, estima-se que essa influência deva diminuir, porém não desaparecer de todo. Isso porque, como a oscilação do preço internacional do barril influencia grandes economias na Ásia, Europa e Estados Unidos, reflexos disso devem chegar indiretamente ao Brasil.

Outros fatos marcantes na história do petróleo no Brasil foram os acidentes que mataram dezenas de pessoas que trabalhavam na exploração. Em 1984, um incêndio matou 34 pessoas na plataforma de Enchova, na Bacia de Campos. Em 2001, a Petrobrás amargou a perda de 11 pessoas e de uma plataforma de US$ 500 milhões com o afundamento da P-36 no litoral fluminense, após uma seqüência de explosões. Segundo a empresa, desde então é investido US$ 1 bilhão por ano na área de segurança e meio ambiente para que acidentes como esse não mais ocorram.

Para o futuro, há grandes apostas em novos campos de exploração. A Bacia de Santos, o litoral do Espírito Santo, Sergipe e Alagoas são áreas promissoras que já apresentam resultados. Após a auto-suficiência, previsões mostram que é possível o Brasil entrar para o time dos países exportadores.