Título: À vista, uma batalha de números e denúncias
Autor: Lu Aiko Otta, Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2006, Nacional, p. A6

PT deverá recorrer a bons índices do PNAD, mas tucanos preparam troco

No quarto confronto seguido entre PT e PSDB, a campanha presidencial deste ano será rica em comparações e pobre em propostas. Em uma prévia da disputa, os partidos mostram-se limitados a duas questões: corrupção e briga de números entre os dois governos de Fernando Henrique Cardoso e a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.

"As duas candidaturas estão em debate há 13 anos. É um confronto antigo, mas tem a questão da corrupção como elemento novo. Houve uma desmoralização muito grande que atingiu o presidente Lula, embora não o tenha tirado da disputa", diz o cientista político Marcus Figueiredo, diretor do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj).

Na tentativa de diferenciar o que é parecido, restará ao PSDB e ao PT olhar mais para o passado do que para o futuro, dizem analistas ouvidos pelo Estado. E, nesse campo, vale tudo. "Cada um puxa a sardinha para o seu lado. Mas, quando o candidato começa a fazer interpretações complicadas e se distancia da realidade, o eleitor desconfia", diz Figueiredo.

O site do PT usa com estardalhaço os indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2004, do IBGE, divulgadas em novembro passado. "Resultados da Pnad comprovam que o governo Lula reduziu a desigualdade de renda, com aumento do nível de emprego e melhoria das condições de vida", anuncia o partido. Os números, de fato, são bons. Mas podem ser usados de todos os lados.

A queda do desemprego é um dos trunfos do PT, com a entrada de 2,7 milhões de trabalhadores no mercado em 2004 (mais 3,3% na população ocupada). Os tucanos lembram, por seu lado, que o recorde é deles: 3,8% de crescimento em 2002.

Outra comparação que agrada aos petistas é a inflação "de apenas 5,5%" em 2005, citando o IPCA, medido pelo IBGE. O índice, que está no site do partido, é comparado com 12,5% de 2002. Nesse ponto, os tucanos replicam: a inflação foi controlada no governo FHC e não passou de 1,65% em 1998.

Um dado muito favorável a Lula, apontado na Pnad 2004, é a redução da desigualdade, com aumento da renda média dos 10% mais pobres e queda na dos 10% mais ricos. "A desigualdade caiu em 2004 o mesmo que caiu em 2001 e 2002 juntos", diz o economista da FGV Marcelo Neri, especialista no estudo da pobreza. "Acho que esta será a década da redução da desigualdade, como os anos 90 foram do controle da inflação. Mas esses índices também revelam a pobreza extrema: a renda dos 10% mais pobres, de R$ 76, é 43 vezes menor que a dos 10% mais ricos, de R$ 3.266.

"A ética vai estar em primeiro lugar no debate eleitoral", aposta o senador Pedro Simon (PMSB-RS), que vê nisso um ponto positivo. O deputado petista Sigmaringa Seixas (DF) acha que essa discussão "nem deveria estar presente" na campanha. "porque é elementar que o político tem de ter ética".