Título: Com governador ou prefeito, PFL fará aliança com tucanos
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2006, Nacional, p. A7

Jorge Bornhausen, Presidente do PFLEntrevistaSeja quem for o candidato do PSDB à Presidência e seja qual for a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a verticalização das alianças nestas eleições, a chapa tucana à Presidência terá um vice pefelista. É o que deseja o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), para quem o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito José Serra "são perfis perfeitamente encaixáveis" para a missão de enfrentar o presidente Lula.

Em entrevista ao Estado, Bornhausen diz que o partido tem um roteiro, que inclui uma conversa com seu pré-candidato, o prefeito do Rio, César Maia, e uma consulta às instâncias partidárias sobre a aliança. Mas admite, sem titubear, que a candidatura própria não é o melhor caminho e o objetivo do PFL é um só: "Não permitir que a incompetência e a leniência com a corrupção continuem a comandar o Brasil". Como? "Tirando do governo o presidente da República que não honrou seu mandato."

O senhor acredita que o STF manterá a verticalização das alianças?

Acredito que o artigo 16 da Constituição não impede a aplicação imediata da emenda que libera as alianças. Na questão jurídica, tenho pleno convencimento de que a razão está com o Congresso. A notícias de uma tendência em favor da verticalização no STF pode ser verdadeira. Mas creio que uma defesa feita pelo ministro Paulo Brossard, como advogado do Congresso, pode levar o Supremo a mudar de posição.

O PFL ainda cogita lançar candidato próprio a presidente?

Não fiz ainda consultas internas. Estou aguardando a decisão do PSDB, para depois consultar o prefeito César Maia, que foi lançado candidato em 2004 e ficou de dar sua resposta em março. E, evidentemente, aguardo a decisão do STF. Só então farei ampla consulta, ouvindo a Executiva, as bancadas da Câmara e do Senado, os governadores, vice-governadores e prefeitos de capital, para decidir o caminho do partido.

Maia já disse que abriria mão de se candidatar em favor de Serra. E se Alckmin for o escolhido?

Não conversei com Maia. Espero o PSDB decidir. Ele já disse que, tendo as mesmas características administrativas de Serra, retirará sua candidatura se este for candidato. Sobre Alckmin não falou nada.

Há no PSDB um entendimento de que o PFL prefere Serra. É fato?

Não considero fato porque não fizemos consulta. A decisão entre o prefeito e o governador é exclusiva do PSDB. Acho que eles têm um problema difícil, pela qualidade de ambos. Não nos compete o envolvimento em uma questão tão difícil e que é de outro partido. Aguardaremos a decisão do PSDB com a paciência necessária e sem ansiedades ou angústia.

Mantida a verticalização, o PMDB pode sair da disputa e precipitar a definição no primeiro turno. Isso pesará na escolha do candidato?

Sem dúvida alguma. A verticalização vai diminuir consideravelmente o quadro de candidatos com expressão. É provável que o PMDB não tenha candidato. Nesse quadro, a definição em primeiro turno é possível, porque haverá polarização entre Lula e o anti-Lula. Entre os que querem a corrupção e a incompetência, e os que querem um Brasil melhor.

Qual será o roteiro do PFL?

A primeira etapa, depois da escolha do candidato, será conversar com os líderes, ver que posições existem nos Estados. Depois, se a intenção for coligar, conversaremos com o candidato para vencermos essas dificuldades. Numa eleição polarizada, que pode se definir no primeiro turno, temos de fazer o esforço possível para que os partidos estejam unidos em todos os Estados. Isso vai depender muito das direções, mas sobretudo do candidato.

Como o senhor avalia uma coligação com o PSDB para presidente?

A boa coligação é aquela que é auto-explicável. Uma coligação que tem de ser explicada ao longo da campanha normalmente é derrotada. Nossa coligação é auto-explicável, porque fizemos durante todo esse período oposição conjunta ao presidente Lula. Agora temos de trabalhar para melhorar as condições estaduais e só então, depois de ouvir o partido, pensar na complementação da chapa nacional, que é a última etapa do processo.

Que razões levariam o PFL a fechar com Serra e que razões justificariam uma aliança com Alckmin?

A razão principal de termos a tendência de fechar coligação com o PSDB é tirar do governo o presidente da República que não honrou seu mandato.

Isso quer dizer que o PFL considera o governador e o prefeito bons perfis para presidente?

São perfis perfeitamente encaixáveis para serem candidatos. Nossa responsabilidade é não permitir que a incompetência e a leniência com a corrupção continuem a comandar o País.

O senhor vê Serra na disputa pelo governo de São Paulo?

Acho difícil o prefeito sair para ser candidato a governador. Acho que ele pode, atendendo a um apelo do partido, vir a ser candidato a presidente. Na condição de governador, para mim será uma surpresa.

O PFL tem um projeto de poder em São Paulo que será uma condição para a aliança com o PSDB?

Se prosperarem as conversas de aliança, queremos que nosso candidato ao governo seja avaliado pelo PSDB, conjuntamente com nomes lembrados pelo PSDB. Como o PSDB não tem candidato natural ao governo, deve prevalecer o sistema da eqüidade de oportunidades. Vamos examinar isso em conjunto. Isso é uma coligação feita com responsabilidade.