Título: Dirceu aprovava nomes para fundos, diz Sereno
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2006, Nacional, p. A11

Em depoimento à CPI dos Correios ontem, o ex-assessor da Casa Civil e ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno reconheceu que todas as indicações para a direção de fundos de pensão de estatais passaram pelo crivo da Casa Civil e a maioria dos designados vinha do movimento sindical. Braço direito do ex-ministro José Dirceu, Sereno negou ter tido qualquer influência sobre as operações financeiras feitas pelos fundos.

"É natural a designação de dirigentes com origem sindical para os fundos. No governo anterior isso também ocorria, só que não tinha tanta gente do movimento sindical que era de confiança deles", afirmou ele. "Eu não acompanhava os fundos de pensão para saber o que cada um tinha de investimentos em carteira própria", garantiu.

Sereno contou que "teve contatos", inclusive no Planalto, com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. "Em 2004, eu pensava em me candidatar à Câmara e me encontrei com Valério para tratar de uma eventual campanha. Foram contatos em função de ele ser dono de uma agência de publicidade. Nunca conversamos nada sobre fundos de pensão."

Em quase três horas de depoimento, Sereno admitiu que influenciou na escolha de dirigentes da Funcef, dos empregados da Caixa Econômica Federal, e da Refer, dos funcionários da Rede Ferroviária Federal. "Precisei intervir para compor forças nos dois fundos", explicou. Apontado como responsável por indicar dirigentes para os fundos, ele insistiu em que apenas encaminhava as indicações que passavam pela Casa Civil.

ESVAZIADO

Às vésperas do fim da CPI, o depoimento foi esvaziado: só estavam presentes o sub-relator de fundos de pensão, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) e o deputado Carlos Abicalil (PT-MT), que foi defender o ex-dirigente petista. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) apareceu no fim da sessão.

À CPI, Sereno confirmou ser amigo de Murilo e Christian de Almeida Rego, filhos do operador de mercado Haroldo Pororoca. Eles são apontados como responsáveis por supostas operações irregulares com fundos. "Nunca tratei nada com o Murilo sobre fundos de pensão."

Ele atribuiu a vinculação de seu nome a supostas irregularidades na Prece, fundo dos funcionários da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) do Rio, à "luta política" entre o PT e o ex-governador Anthony Garotinho. "Eu era uma pessoa importante e, portanto, um alvo natural dos adversários políticos locais." Sereno foi secretário de Governo em 2002, na gestão de Benedita da Silva. Ele negou ainda ter pedido a Gildásio Amado Filho, ex-diretor financeiro da Nucleos (fundo de pensão das empresas da área de energia nuclear) que recebesse Fernando Barros Teixeira, representante da ASM Asset Management, uma gestora de recursos de terceiros.

ACM Neto informou ontem que pretende apresentar já nesta segunda-feira o texto com suas conclusões ao relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Ao todo, a sub-relatoria de fundos de pensão ouviu 66 pessoas. Sereno foi o último convocado a depor. "Vamos fazer um apelo para que o Ministério Público conclua as investigações que não puderem ser concluídas pela CPI."