Título: Stédile será processado por apoiar invasão da Aracruz
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2006, Nacional, p. A12

O líder do MST João Pedro Stédile será processado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul. A decisão foi tomada ontem pelo procurador-geral de Justiça, Roberto Bandeira Pereira, após ver a entrevista que Stédile deu a emissoras de TV cumprimentando as 2 mil mulheres da Via Campesina que destruíram um laboratório e um viveiro de mudas da Aracruz Celulose em Barra do Ribeiro (RS), na quarta-feira.

O material também será analisado pelo promotor criminal Sérgio Santos Marino, que vai decidir que tipo de ação será movida. "É possível que seja por incitação ou apologia ao crime."

Não será a primeira vez que Stédile terá de se explicar à Justiça gaúcha. Em 2003 ele definiu os proprietários rurais como "inimigos" e disse que cada mil camponeses poderiam pegar um latifundiário. Chamado várias vezes a explicar as declarações belicosas, nunca se apresentou. Seus advogados conseguiram extinguir o processo em 2005. O Tribunal de Justiça entendeu que as declarações, em seu contexto, se referiam a um incentivo à mobilização e não a ataques contra pessoas.

Três dirigentes da Via Campesina Internacional, o basco Paul Nicholson, o indonésio Henry Saragih e a dominicana Juana Serrer prestariam depoimento à Polícia Civil do Rio Grande do Sul ontem à noite. Eles foram intimados quando encerravam uma entrevista de avaliação da Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Não assinaram a intimação, mas se comprometeram a comparecer para prestar esclarecimentos sobre o apoio que deram à invasão da Aracruz.

Antes da citação, na coletiva, elogiaram a invasão, alegando mais uma vez que a ação era um protesto contra o avanço de florestas de eucaliptos em áreas agricultáveis. Nicholson disse também que a ação não é única e faz parte de um conjunto de atos internacionais para contestar a monocultura de florestas.Curiosamente, a coletiva da Via Campesina não tinha nenhum representante brasileiro. A polícia continua analisando imagens dos veículos que levaram as mulheres ao local da invasão e cenas da destruição para tentar identificar os envolvidos.

ADIAMENTO

A Aracruz vai adiar em dois meses o anúncio do local do investimento de US$ 1,2 bilhão em uma nova fábrica de celulose. O diretor de operações da empresa, Walter Lidio Nunes, disse que a decisão não está vinculada à destruição do laboratório. Nunes informou que a definição do local depende de acertos com o governo do Estado.