Título: General ainda não se explicou à Comissão de Ética
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2006, Nacional, p. A17

A Comissão de Ética da Presidência da República não havia recebido ainda, até o início da noite de ontem, as explicações solicitadas ao comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, sobre o episódio ocorrido na Quarta-feira de Cinzas, no aeroporto de Viracopos, em Campinas, em que ele teria forçado a interrupção da decolagem de um vôo para Brasília.

"O prazo é de cinco dias úteis e termina na segunda-feira", lembrou o presidente da Comissão, Fernando Neves. Assim que receber a resposta do general, a Comissão terá uma semana para examiná-la. A decisão - se o general teve ou não algum comportamento irregular - será tomada em reunião já marcada para o dia 21.

A Comissão pediu explicações depois da divulgação, no final de semana, do episódio ocorrido às 17h10 do dia 1º de março, no aeroporto de Campinas. Dela participam, além de Fernando Neves, outras cinco pessoas, entre elas a professora Maria Victoria Benevides e o ex-ministro Marcílio Marques Moreira.

A revelação feita ontem pelo Estado, de que há um procedimento interno no Departamento de Aviação Civil (DAC) para investigar responsabilidades, foi negada tanto pelo general, que está em visita ao Chile, quanto por essa divisão da Aeronáutica, no Rio.

"A solução não dependeu de minha atitude", disse o comandante Albuquerque ao Jornal Nacional, da TV Globo, referindo-se à ordem para que o avião da TAM voltasse à área de embarque. "Que eu saiba, ninguém pediu (para trazer o avião de volta). Minha gente não é disso", acrescentou.

O comandante do Exército tem dito que o que ocorreu em Viracopos foi um problema de overbooking - quando a companhia aérea vende mais assentos do que consegue disponibilizar. Ele teria reclamado ao DAC e acabou atendido pela empresa.

O general não fez nenhum comentário direto sobre o "procedimento irregular" relatado em um livro de ocorrências da Infraero e que foi requisitado pelo DAC. Nesse texto, a própria Infraero afirma que "após o suboficial Agostini ter recebido determinação do general Albuquerque que deveria estar a bordo (sic), o mesmo ligou para a TWR/KP (a torre) a fim de impedir a saída da aeronave PT-MZQ". O general disse ainda, na entrevista à TV Globo, que sua conduta, "foi a de um cidadão preservando seus direitos". Na ocasião, já estavam na lista de espera do mesmo vôo, antes dele e de sua mulher, outros 14 cidadãos.

A TAM não informa qual o tratamento que lhes foi dado. Sabe-se, apenas, que esses passageiros não tomaram o vôo. A assessoria da empresa apenas repete a nota distribuída anteriormente, na qual menciona "a adesão de dois passageiros" que deixaram o avião para dar lugar ao general e a sua mulher .

Na sede do DAC no Rio, a assessoria de imprensa sustenta que a sindicância sobre o caso não existe. Uma nota do Departamento, do dia 6, informava que seu fiscal em Viracopos, na ocasião, se dirigiu à TAM "para coordenar os acertos necessários à solução do problema".