Título: Tropas não sairão já das ruas, diz Alencar
Autor: Rodrigo Morais
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Metrópole, p. C1

O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, e o do Comando Militar do Leste (CML), general Domingos Curado, comemoraram à noite a localização das armas roubadas no Rio. Mas não há uma previsão ainda de quando as tropas serão desmobilizadas. Para Alencar, a operação no Rio mostrou que "a presença do Exército (nas ruas) é benéfica" no combate à criminalidade e ao tráfico.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi avisado da localização das armas pelo vice. "O presidente naturalmente se congratulou com o Exército de ter realizado esta operação que foi vitoriosa", disse Alencar, que criticou o "atrevimento" dos bandidos. "Estamos sendo muito compreensivos com o crime no Brasil e, com isto, o crime vai crescendo." Para ele, ações como a realizada no Rio servem "para mostrar que o crime não compensa".

Alencar não quis precisar até quando o Exército ficará nas ruas. "O Exército agiu cumprindo mandados judiciais. Então, se houver um pedido do governo do Rio para que o Exército participe de alguma ação episódica para minorar os problemas da criminalidade no Rio, ele jamais se furtaria e não se retira. Mas não podemos fazer uma ação no Rio sem que sejamos convidados para isso". O pedido, no entanto, não foi apresentado até agora.

"O mais importante é que retiramos dos bandidos armas que poderiam ser usadas contra a população", disse Curado, ao elogiar a atuação conjunta com a Secretaria de Segurança do Rio. Questionado sobre informações que circularam ontem no Rio, de que haveria uma acordo entre Exército e o Comando Vermelho para que as armas aparecessem, o general reagiu: "O Exército não faz acordo com criminosos e só age dentro da lei. A pergunta é absurda."

Curado salientou que o Inquérito Policial-Militar (IPM) que está apurando o roubo ao quartel terá duração de 60 dias. "Novos mandados judiciais poderão ser cumpridos no Rio por solicitação do responsável pelo IPM e pelo juiz."

POLÊMICA

Apesar do desfecho favorável, a operação do Exército continuou provocando polêmica entre especialistas. "Precisavam ter feito toda essa encenação na Providência e na Mangueira, apontando canhões para as pessoas? O Exército reagiu com uma demonstração de força, cuja escolha de alvos não teve lógica. Quando apelaram para a inteligência, resolveram", disse a antropóloga Alba Zaluar, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). "Só espero que não fiquem nesses dez fuzis e recolham todas as armas militares em poder de criminosos."

O diretor do Núcleo de Estudos Estratégicos e de Segurança da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ronaldo Leão Correa, elogiou a operação. "A verdade nua e crua é que a Operação Asfixia funciona. Se quiser reduzir o varejo, tem que fazer operações em volume maior e de caráter permanente", disse. "Quando devolveram as armas, não foi por medo do Exército, e sim porque a operação afetou o único lugar em que eles sentem dor, o bolso. Mas ainda tem a pergunta que não quer calar: Cadê os caras que roubaram?"