Título: Tráfico avisa e Exército acha armas
Autor: Rodrigo Morais
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Metrópole, p. C1

No 12º dia de operações militares no Rio, o Exército recuperou ontem, num matagal perto da favela da Rocinha, zona sul, os dez fuzis e a pistola roubados de um quartel da cidade no dia 3. Eles foram achados por volta das 18h30, numa "trilha ao lado da região conhecida como Esqueleto, próximo da Estrada das Canoas, em São Conrado", conforme nota do Comando Militar do Leste (CML) e da Secretaria de Segurança. O Exército admitiu que a localização das armas foi revelada por traficantes preocupados com o prejuízo para as vendas de uma ocupação realizada ontem na Rocinha.

O chefe do Estado-Maior do CML, general Hélio Chagas Macedo, disse que um militar do setor de inteligência foi avisado do esconderijo das armas por um homem que passou de motocicleta pelas tropas. O informante não foi detido. Os fuzis e a pistola, que seriam enviado a peritos militares, foram apresentados à imprensa na sede do CML, no centro.

A Rocinha foi ocupada das 10 horas às 19 horas por 300 militares e 60 homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar. No começo, os traficantes reagiram com deboche e ousadia. Reunidos em lajes, exibiram fuzis, granadas e radiotransmissores. Depois soltaram fogos de artifício, detonaram explosivos e atiraram para o alto. Pelo rádio, ofendiam os militares.

De acordo com o CML, não houve confronto. Um soldado deu um tiro acidental no pé - na primeira "baixa" militar da operação no Rio. Um rapaz de 16 anos, apontado como traficante, foi baleado na perna e hospitalizado. O CML informou que o tiro não partiu das tropas. O adolescente foi detido.

À tarde, o CML já dizia ter indícios de que as armas roubadas permaneciam no Rio. "Tanto que não fizemos operações fora da cidade", afirmou o coronel Fernando Lemos. Até o fim da tarde, o Disque-Denúncia havia recebido 945 ligações com informações sobre o roubo da pistola e dos fuzis.

Encontradas as armas, o Exército tem como objetivo máximo agora identificar e prender os autores do roubo. "Chegaremos à prisão dos responsáveis. Com certeza", afirmou o general Macedo. Ele explicou que as tropas continuarão disponíveis para o cumprimento de mandados de busca e apreensão ou de prisão, segundo as necessidades do Inquérito Policial-Militar que investiga o roubo das armas. "As ações continuam. Serão mais focadas, mas continuam."

Além da Rocinha, os militares ocuparam ontem a favela Curral das Éguas, na zona oeste, por volta das 6 horas. Trezentos homens tomaram ruas, vielas e uma passarela que dá acesso à favela. Seis veículos blindados e um helicóptero reforçaram a operação. Os militares cumpriram quatro mandados de busca. Nada foi encontrado e a tropa deixou o local à tarde.