Título: Sem a presença de Serra, PSDB lança Alckmin à Presidência
Autor: Carlos Marchi e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Nacional, p. A4

O governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, será o candidato do PSDB à Presidência da República, depois de um processo de escolha de dois meses, em que o partido, pouco afeito a disputas internas, teve de optar entre ele e o prefeito José Serra. Nos três discursos do anúncio repetiu-se, como um mantra, a pregação da unidade partidária. Mas o alvo dessa pregação, o preterido Serra, não esteve presente. Alckmin iniciou sua escalada anunciando três bandeiras - da ética, da eficiência e das reformas.

"Um banho de ética no governo brasileiro; a bandeira da eficiência, fechando todas as torneiras do desperdício; e a bandeira das reformas, que vão possibilitar ao País avançar com firmeza, num grande projeto de desenvolvimento", disse ele, dando, na largada, o tom de sua futura campanha. Bateu firme: "O Brasil não agüenta mais essa onda de corrupção que assolou o País, o País sem projeto, com crescimento raquítico, um marasmo verdadeiro, num mundo marcado pela mudança e pela rapidez das coisas."

O candidato tucano pregou a construção de "um grande projeto nacional de desenvolvimento, com ousadia e com grandeza, à altura do povo brasileiro". Segundo ele, "o Brasil tem pressa sim, pressa de crescimento, de emprego, de renda, de salário, para que os filhos possam ter uma vida melhor que a de seus pais. País das oportunidades - este é o nosso grande desafio". E procurou logo alvejar o governo Lula e o PT: "Para nós, política é serviço, não é instrumento de luta patrimonialista." Por fim, elogiou Serra, a quem chamou de "grande homem público".

O anúncio foi feito pelo presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), que pediu desculpas pelos "inconvenientes" do processo de escolha. Não poupou elogios a Serra: "Estamos lidando com dois homens de alto nível e espírito público." Para ele, Serra abriu mão da disputa porque "entende que o País não pode ficar entregue ao PT, que vem conduzindo o País de maneira desgovernada e sem ética".

O governador Aécio Neves falou em nome dos governadores e ressaltou que o PSDB "está mais do que nunca unido para recuperar o poder, não pelo poder, mas para apontar um rumo e fazer o País voltar a crescer". Ele cobrou dos tucanos a obrigação de "arregaçar as mangas" para voltar ao Palácio do Planalto. A Serra, ele dedicou "uma palavra de admiração pelo homem público completo que é".

LOCAL

O evento para o anúncio do candidato chegou a ser preparado no grande hall do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, mas depois foi transferido às pressas para a acanhada sede do PSDB paulista, porque alguém lembrou que o palácio é um prédio público e, no caso, seria usado para uma reunião do partido. O evento que seria acolhido por painéis de Portinari e Djanira e quatro belos arcazes de jacarandá claro dos séculos 17 e 18 acabou ocorrendo no quintal com piso asfáltico da sede do PSDB, em frente de uma caixa d'água de 10 mil litros.

O palanque, improvisado com alguns praticáveis, foi pequeno para tantos personagens que queriam aparecer ao lado de Alckmin. Além do homenageado, com a mulher Lu e a filha Sophia, lá estavam os governadores Aécio Neves (MG), Marconi Perillo (GO), Simão Jatene (PA), Lúcio Alcântara (CE) e Cássio Cunha Lima (PB), além de Tasso e muitos parlamentares federais e estaduais, inclusive os serristas Eduardo Paes (RJ), secretário-geral do PSDB, e Alberto Goldman (SP). Não havia políticos do PFL - nem o senador José Agripino Maia (RN), dado como candidato a vice na chapa de Alckmin.

No fim, o governador recebeu uma faixa presidencial de mentirinha do humorista Carlos Alberto da Silva, que imita Lula no programa Pânico na TV. Alckmin gostou. Mas quando o humorista tentou lhe colocar uma peruca, um segurança a arrebatou com certa violência. O humorista explicou que era para livrá-lo da careca: "É dos carecas que elas não gostam mais", ironizou.