Título: Alckmin não pode ser subestimado, avisa Lula
Autor: Tânia Monteiro e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Nacional, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita que a candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ao Palácio do Planalto tem potencial de crescimento e não deve ser subestimada. "Nós não podemos ficar de salto alto nesta eleição", recomendou o presidente a ministros do PT. Um auxiliar direto de Lula disse que Alckmin, com jeito de bom moço, pode surpreender na disputa. "Ele é um picolé de chuchu com tempero de pimenta", comparou o assessor do presidente. "É um livro em branco."

Para interlocutores de Lula, o fato de Alckmin ostentar o rótulo de desconhecido não deve ser comemorado pelo PT. Ao contrário: o governador é, por isso mesmo, dono de um índice de rejeição menor e, na análise palaciana, sua imagem pode ser "lapidada" pelo marketing político.

A escolha de Alckmin também provocou comentários irônicos sobre a divisão no PSDB. "O que aconteceu? O Serra (José Serra, prefeito de São Paulo) não vai encarar?", perguntou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Com o mesmo discurso de Lula, Bernardo evitou opinar sobre qual seria o concorrente menos perigoso para o governo. "Nós não escolhemos adversário. Mas parece que o Serra não quis encarar. Então, vamos pra luta contra o Alckmin", avisou.

IMBATÍVEL

Na avaliação do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, Lula é "um candidato imbatível" para a reeleição. Diplomático, ele desejou que o PSDB tenha sido "feliz" na sua escolha. Alencar destacou que o fato de Lula continuar com a popularidade em alta, mesmo enfrentando inúmeras dificuldades com a crise política, é a "prova evidente" do seu valor.

"O presidente tem uma sensibilidade social incomum, um sentimento nacional arraigado e probidade absoluta. Eu sou testemunha disso. É um candidato imbatível", disse Alencar, reiterando que deixará o cargo de ministro no fim deste mês, para não ficar impedido de se candidatar às eleições de outubro. Ele não quis comentar, porém, a remota possibilidade de ser novamente candidato a vice. "Isso depende de convite e da conjuntura", desconversou.

Chamado ontem ao Palácio do Planalto, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse que a disputa eleitoral de outubro será em torno de "modelos de governança".

"Vamos comparar os oito anos do governo Fernando Henrique com os quatro da administração Lula, lembrando sempre que o PSDB significa privatização, desemprego e segurança pública ineficiente", insistiu. No Planalto, a ordem é bater nos tucanos e vender as "realizações" do governo petista.

Lula não quer, por exemplo, que o PT critique a política econômica em praça pública. Já pediu até a ministros que façam a defesa de sua gestão na reunião do Diretório Nacional petista, marcada para sábado e domingo. "Mas o PT ainda não adquiriu a experiência de brigar internamente", provocou o presidente da Infraero, Carlos Wilson. "Todo mundo tem de soltar um documento", emendou, numa referência aos textos produzidos por comissões do partido, com propostas para o programa de governo de Lula.

Para o deputado Paulo Delgado (PT-MG), o confronto entre PT e PSDB será ideológico. "Na campanha passada, Lula era o Alckmin", comparou, ao argumentar que o petista se apresentou ao eleitorado, em 2002, como candidato de centro, com um figurino mais light. "Alckmin é uma opção conservadora do PSDB", disse Delgado. "No Brasil, só se vence eleição pelo centro."