Título: Milosevic será enterrado em Belgrado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Internacional, p. A16

O corpo do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, liberado pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, (TPII), foi levado para o necrotério do Aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, e deve seguir hoje para Belgrado onde será sepultado, informou na noite de ontem o advogado da família, Zdenko Tomanovic.

Ele pôs fim a um clima de incerteza e grande confusão sobre o destino final do ex-ditador iugoslavo, que muitos diziam ser Moscou e não Belgrado.

"O presidente Milosevic será enterrado em Moscou; as chances de que isso ocorra são de 99%", anunciava Ivica Dacic, vice-presidente do Partido Socialista Sérvio (PSS), do qual Milosevic foi líder máximo.

"A possibilidade de que ele seja sepultado em Belgrado (capital da Sérvia) é remota", acrescentava. Dacic acusava a prefeitura de Belgrado de impor restrições a todos os locais escolhidos para o enterro, além do que classificava de entraves judiciais que impossibilitam a viagem da viúva, Mirjana Markovic, à Sérvia. Mira, como é conhecida a viúva, está asilada em Moscou desde 2003. É acusada de abuso de poder pela Justiça sérvia, que pediu à Interpol a captura dela.

ORDEM DE PRISÃO

Ontem, porém, um tribunal sérvio anulou a ordem de prisão para que ela possa acompanhar o enterro do marido em Belgrado. Mas impôs algumas ressalvas: o passaporte dela será cassado; ela terá de pagar fiança equivalente a US$ 16 mil; e comprometer-se a comparecer a futuras audiências judiciais.

"Se o governo não remover esses obstáculos e der plenas garantias de que não sofreremos nenhum tipo de coerção de ordem judicial e policial, vamos sepultar meu pai em Moscou", assegurava Marko, filho do ex-presidente iugoslavo encontrado morto no sábado, aos 64 anos, em sua cela de uma prisão de Haia. Milosevic era julgado por crimes de guerra durante os conflitos da Bósnia e de Kosovo no início da década de 90.

Marko ressaltara que as autoridades da Rússia, grande aliada da Sérvia, já haviam autorizado o enterro de Milosevic num cemitério de Moscou.

"Não fazemos nenhuma objeção ao sepultamento em Belgrado, que pode ocorrer até porque a viúva já obteve da Justiça a suspensão da ordem de prisão", comentou o primeiro-ministro sérvio, Vojislav Kostunica. "O local dos funerais depende da família", acrescentou, deixando, porém, claro que o ex-líder iugoslavo não terá enterro com honras de Estado. As atuais autoridades sérvias responsabilizam Milosevic pela derrocada da antiga Iugoslávia e pelo sangue derramado durante a guerra civil.

A oposição, liderada pelo Partido Socialista Sérvio (PSS), considera Milosevic herói nacional e ameaça derrubar o governo de Kostunica na próxima sessão do Parlamento. O PSS quer explorar a morte de Milosevic para tentar fazer renascer o nacionalismo sérvio.

Nessa linha, Marko, filho do ex-ditador iugoslavo, reafirmou em Haia acreditar que seu pai tenha sido assassinado.

Ele chegou à capital holandesa, procedente de Moscou, para retirar o corpo. Estava acompanhado de legistas russos "para realizar uma segunda" autópsia em Milosevic. Não ficou claro se receberam permissão para tanto do TPII.

O resultado da primeira autópsia, feita por legistas holandeses, concluiu por enfarte do miocárdio. Mas um toxicologista holandês, Donald Uges, disse ter encontrado no sangue de Milosevic amostras de um antibiótico que neutraliza o tratamento da hipertensão. "Milosevic tomou essa medicação deliberadamente", concluiu Uges.