Título: Promotor recusa petição de libanesa
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Internacional, p. A15

O Ministério Público Estadual se recusou a analisar o pedido de liberdade formulado pela defesa da economista Rana Abdel Rahim Koleilat, de 39 anos. Presa pela polícia no dia 12 em São Paulo, ela é acusada no Brasil de oferecer US$ 200 mil aos policiais para que a deixassem livre. "O advogado não incluiu a procuração de sua cliente no pedido de liberdade e, como ela não pode postular, o pedido não pôde ser apreciado", disse o promotor de Justiça Carlos Eduardo Massai.

Rana é acusada de uma fraude bancária no valor de US$ 1,2 bilhão, que levou à falência do Banco Al-Madina, no Líbano. Parte do dinheiro desviado teria ido parar nas mãos dos serviço secreto sírio, o que fez de Rana suspeita de financiar o atentado que matou o ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri, em fevereiro de 2005.

Com a decisão do promotor, o pedido voltará ao juiz-corregedor Alex Tadeu Zilenovski para que a procuração seja incluída. Só então, o magistrado decidirá se a economista vai permanecer presa ou não no Brasil. "Será muito difícil encontrá-la de novo se ela for solta", afirmou o delegado Humberto Prisco Neto, da Superintendência da PF em São Paulo.

O delegado confirmou que a Interpol já foi informada prelo governo libanês sobre o interesse do Líbano na extradição de Rana. Ao mesmo tempo, o promotor afirmou que recebeu um pedido de prisão da economista feito pela Interpol e uma cópia de uma carta do consulado do Líbano, em São Paulo, na qual as acusações contra Rana naquele país são descritas. "Se tivesse de analisar o mérito do pedido feito pelo advogado, eu me manifestaria contra."

O advogado de Rana alega que sua cliente foi vítima de um mal-entendido. Segundo ele, a economista não ofereceu propina aos policiais e é inocente das acusações existentes no Líbano. "Ela não sabe falar português, e os policiais não falavam árabe." O advogado disse que juntou ontem a procuração de sua cliente ao pedido enviado ao juiz-corregedor.

TRANSFERÊNCIA

Rana foi transferida ontem pela polícia da sede da Delegacia Seccional de Itaquera, na zona leste, onde estava desde domingo, para uma cela do 89º Distrito Policial, no Portal do Morumbi, na zona sul de São Paulo. Escoltada por policiais armados com submetralhadoras, ela foi retirada da delegacia por um buraco na parede - o prédio está sob reforma - antes de ser posta na Blazer que a conduziu ao 89º DP. O distrito tem quatro celas com capacidade para 20 presas, mas abriga só oito, pois é reservada para mulheres que têm curso superior.

Rana estava escondida num flat na Avenida Luiz Dumont Villares, em Santana, na zona norte de São Paulo, quando foi localizada. Ela tinha R$ 14,5 mil em seu poder, além um telefone celular e um passaporte britânico em nome de Rana Klailat. A embaixada britânica informou à polícia que o passaporte era falso. "Ela poderá responder ainda pelo uso do documento falso", disse o promotor.

Teria sido com ele que a economista cruzou a fronteira do Líbano com a Síria em abril de 2005, depois de ter sido solta pela Justiça libanesa em março. Rana, que passara 14 meses na prisão por causa da fraude bancária, havia recuperado a liberdade com a condição de não se ausentar do País. Depois de sua fuga, a Justiça libanesa decretou-lhe novamente a prisão. Surgiram então suspeitas de que ela havia participado do financiamento do atentado com um carro-bomba que matou Hariri. Este era contrário à permanência das tropas sírias no Líbano, daí porque os sírios são suspeitos do crime. A Comissão Internacional Independente das Nações Unidas, que investiga o assassinato havia pedido a localização de Rana à Interpol.