Título: Israel invade prisão palestina
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Internacional, p. A14

Antes da posse do grupo Hamas no governo palestino e a menos de 15 dias das eleições israelenses, o Exército de Israel lançou ontem uma de suas maiores ofensivas nos últimos meses em território autônomo palestino.

Com tanques, helicópteros e tratores, centenas de soldados cercaram a prisão da cidade bíblica de Jericó e capturaram o líder da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), Ahmed Saadat, além de outros 20 militantes. Três palestinos foram mortos na ação (um preso, um policial e um homem não identificado).

Os palestinos, incluindo o presidente Mahmud Abbas, culparam os observadores americanos e britânicos, encarregados de vigiar Saadat e quatro militantes da FPLP - todos acusados de envolvimento no assassinato do ministro do Turismo de Israel, Rehavan Zeevi, em 2001. Os monitores haviam abandonado a prisão pouco antes, alegando desordem e falta de segurança. Eles se queixavam de que os presos podiam receber visitas fora de horário e dispunham de regalias proibidas.

A FPLP assumiu a autoria do assassinato de Zeevi e a Autoridade Palestina se comprometera a manter Saadat e os demais acusados em Jericó (ler ao lado). Autoridades israelenses alegaram querer prender Saadat para evitar que fosse solto pelo Hamas, que depois de eleito em janeiro deixou clara a intenção de libertar todos os presos por "ações da resistência". Com isso, seria rompido acordo firmado entre a Autoridade Palestina e Israel, em 2002.

A invasão provocou uma onda de protestos e seqüestros de estrangeiros na Faixa de Gaza e Cisjordânia (ler ao lado). Também levantou suspeitas de que o primeiro-ministro interino de Israel, Ehud Olmert, tenha aprovado essa ação espetacular para se apresentar ao eleitorado como sucessor à altura do primeiro-ministro Ariel Sharon na defesa da segurança de Israel. Para o analista político israelense Yossi Alpher, as eleições parlamentares de Israel, no dia 28, foram uma razão para o ataque, mas o principal fator era mesmo o temor de que o Hamas fosse libertar Saadat - o que seria um revés para Olmert, que lidera as pesquisas.

Em janeiro, Saadat foi eleito deputado no Parlamento palestino e agora a FPLP negocia participação numa coalizão de governo liderada pelo Hamas.

A presença dos monitores era a garantia de que Saadat não fugiria nem Israel o prenderia. Depois da captura de Saadat, o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, acusou os EUA e a Grã-Bretanha de terem ajudado Israel, retirando de comum acordo os observadores do local. Funcionários americanos negaram as acusações e mostraram uma carta enviada ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, no dia 8, advertindo-o de que, se não houvesse segurança para os monitores, eles seriam retirados do local. Extra-oficialmente, fontes disseram que Israel recebeu uma cópia da carta.

Ontem, numa sessão do Parlamento em Londres, o chanceler britânico, Jack Straw, afirmou que Abbas havia sido alertado sobre a falta de segurança na prisão e a possível retirada dos monitores.

As tropas israelenses cercaram por pelo menos dez horas o presídio, no qual estavam uns 200 presos, na grande maioria criminosos comuns. Saadat e os outros cinco militantes buscados por Israel insistiam que não seriam retirados dali pelos israelenses. No final, acabaram se rendendo. Outros 15 prisioneiros foram levados, incluindo Fuad Shobaki, responsável por contrabando de armas para a Autoridade Palestina. Israel anunciou que todos serão julgados.

À noite, militantes palestinos invadiram a prisão palestina de Belém e libertaram oito presos, quase todos das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, facção armada da Fatah.