Título: Oposição quer que ministro se afaste
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Nacional, p. A8

Senadores do PSDB, do PFL, do PMDB e até o petista Eduardo Suplicy (SP) querem que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, compareça ao Congresso e preste esclarecimentos sobre as novas denúncias contra ele. Em entrevista publicada ontem pelo Estado, o caseiro Francenildo Costa desmentiu o depoimento do ministro à CPI dos Bingos e afirmou que ele freqüentava, sim, a mansão do Lago Sul onde representantes da chamada República de Ribeirão se reuniam para dividir dinheiro.

"Comigo o ministro sempre procedeu de maneira ética, mas considero importante que ele esclareça tudo", cobrou Suplicy. Cardeais da oposição, que sempre deram sustentação política ao ministro e o pouparam a despeito dos ataques do próprio PT, já ameaçam rever a posição. "Nunca sustentamos o Palocci; o PT é que queria destruí-lo", afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). "Agora, não temos por que carregar o ministro, se existirem os pecados que foram apontados."

"É a credibilidade da principal autoridade monetária do País que está em jogo. Ou o ministro comparece e esclarece, ou está de forma muito profunda ferido em sua credibilidade", avaliou o senador César Borges (PFL-BA).

No mesmo tom, Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou da tribuna que, "diante de tantas provas testemunhais e documentais", não há como isentar o ministro nem como não citá-lo no relatório final da CPI dos Bingos. Dias quer que Palocci seja indiciado por irregularidades cometidas na prefeitura de Ribeirão Preto e agora no governo, onde, a seu ver, amigos do ministro "transitaram livremente e fizeram tráfico de influência". Álvaro Dias afirmou que, independentemente de haver ou não um novo depoimento do ministro na CPI dos Bingos, já há elementos suficientes para seu indiciamento pelo Ministério Público. Em sua avaliação, "o depoimento (de Francenildo) foi fulminante e não há mais condições de ele (Palocci) se manter no cargo".

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), disse a amigos que estava chocado com o que dissera o caseiro sobre Palocci. Virgílio, que durante o depoimento do ministro na CPI adotou uma atitude cordata com ele, avisou que não mais defenderia sua permanência no cargo, por considerá-la indefensável.

'FROUXIDÃO MORAL'

"Não é possível que isso não tenha conseqüência, a menos que o Brasil tenha chegado ao estado de frouxidão moral", criticou o líder do PDT no Senado, Jefferson Peres (AM), para quem o depoimento do caseiro é "arrasador". Na avaliação do presidente da comissão, Efraim Morais (PFL-PB), é exatamente por se tratar de um caseiro que o depoimento de Francenildo ganha importância. "Não há outros interesses em pauta. Ele fala porque se sente ameaçado."

As novas denúncias contra o ministro dominaram os debates no plenário ontem, mas a defesa de Palocci ficou limitada ao petista Tião Viana (AC), único que subiu à tribuna para contestar a oposição, apontando grande conspiração contra o ministro. "Esse caseiro sumiu. Estão pagando hotel para ele, comida e o que mais?", indagou, para ressaltar que "o mercado está sereno", a despeito das denúncias e "a sociedade não quer futrica, não quer a corrosão da dignidade alheia".