Título: 'Aracruz é deserto verde', ataca Stédile
Autor: Miguel Portela
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Nacional, p. A12
O coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, voltou a defender os sem-terra que destruíram o laboratório e anos de pesquisa da Aracruz Celulose, no Rio Grande do Sul, semana passada.
"A Aracruz é um deserto verde. Não tem vida ali, nem as abelhas sobrevivem nas plantações da progressista Aracruz", atacou, durante discurso a participantes do Fórum Global da Sociedade Civil, evento paralelo ao Encontro das Partes do Protocolo de Cartagena de Biossegurança, que acontece no ExpoTrade, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, onde estavam a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o governador do Paraná, Roberto Requião.
Stédile foi aplaudido por um bom número de integrantes do MST e ambientalistas.
Ele elogiou a ministra, mas disse que, dentro do governo, o agronegócio tem muito mais força que ela. "O que temos que nos perguntar é de que lado está o interesse do povo que precisa se alimentar", afirmou. "Por isso peço que a ministra continue do lado do povo e ajude o governo brasileiro a cumprir a lei." Para ele, a lei somente é acionada quando se trata dos "pobres do campo, dos sem-terra".
"Até o ministro Miguel Rossetto (do Desenvolvimento Agrário), que é um esquerdista tradicional, comentando sobre a Aracruz disse: 'a eles a lei'. Aprendeu rápido a lição reacionária", criticou. "Pois nós dizemos: quem não está cumprindo a lei neste País são os capitalistas, os transnacionais."
RÓTULOS
Stédile cobrou do governo federal a fiscalização sobre as agroindústrias que não estão colocando nos rótulos dos produtos a especificação de que eles são fabricados com transgênicos. "Esse selo é lei", acentuou.
Stédile deixou o local sem dar entrevista, mesmo após dizer que iria à sala ao lado, onde estava programada uma coletiva.
Pela manhã, ele fez uma palestra no Encontro dos Atingidos por Barragens, quando também prometeu que falaria com os jornalistas à tarde. A imprensa foi proibida de assistir à palestra pela manhã. De acordo com os organizadores do encontro, essa decisão tinha sido tomada na noite anterior.