Título: Demanda por petróleo pode cair. Preço, não
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Embora tenha reduzido sua previsão de aumento do crescimento mundial de consumo de petróleo em 2006, de 1,78 milhão de barris por dia para 1,49 milhão, a Agência Internacional de Energia (AIE) alertou que os preços da commodity deverão continuar num nível elevado. "A recente queda nos preços, após as altas de janeiro, gerou previsões de que o período de quatro anos de pressão sobre o petróleo cru atingiu seu pico cíclico", disse a AIE em seu relatório mensal sobre o petróleo. "Um exame nos fundamentos sugere que, embora exista alguma justificativa para uma moderação nos preços, a jornada adiante ainda está longe de ser tranqüila."

Segundo a agência, a cautela com os preços é justificada por uma série de fatores. "Na balança, o forte crescimento da economia mundial e a crescente demanda por petróleo, a imprevisibilidade do abastecimento no Iraque e Nigéria, e os baixos estoques em algumas regiões provavelmente vão compensar os acréscimos na capacidade de produção e o retorno da atividade em refinarias danificadas nos Estados Unidos, pelo menos nos próximos meses", afirmou. "Novas especificações nos derivados, o nervosismo em antecipação da temporada de furacões no Golfo do México e fatores geopolíticos, tudo isso tem o potencial de criar mais volatilidade, que por sua vez provavelmente estimulará o aumento dos estoques."

A agência observou que "embora haja motivos para esperar que os preços caiam se tudo correr bem, a realidade é que a capacidade ociosa limitada e problemas potenciais pela frente deverão sustentar os preços por algum tempo".

A entidade, cuja sede fica em Paris, atribuiu a diminuição da estimativa de consumo global para este ano "aos persistentes preços elevados dos derivados e crescentes sinais de fraqueza da demanda no Sudeste Asiático". Entretanto o aumento no consumo previsto para 2006 ainda representa um salto em relação ao do ano passado, que foi de 1,02 milhão de barris diários. A China e os Estados Unidos lideram essa elevação no consumo global da commodity.

Segundo a agência, deverá ocorrer um aumento modesto na capacidade ociosa de exploração em 2006, aliviando, "mas não removendo", um dos fatores que levaram os preços acima dos US$ 60 por barril: "É claro que o quanto dessa nova capacidade será disponibilizado ao mercado dependerá de outros fatores tais como a política da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e temas geopolíticos. Alguns dos recentes acréscimos na Nigéria compensaram só parcialmente perdas maiores de produção".