Título: Crise pode adiar investimento
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Economia & Negócios, p. B2

A seqüência de crises no setor sucroalcooleiro pode levar a Petrobrás a adiar investimento de US$ 600 milhões para exportação de álcool combustível. Por meio da Transpetro, a estatal está instalando milhares de quilômetros de dutos e ramais e bases de armazenamento para exportar 8,5 bilhões de litros/ano de álcool combustível a partir de 2010. Mas a escassez do produto pode comprometer o Projeto Nacional de Exportação.

Segundo o diretor de dutos e terminais da Transpetro, Marcelino Guedes Gomes, se a falta de álcool continuar por mais alguns anos, a empresa terá de adiar os planos até que haja oferta suficiente para cumprir contratos com os compradores. Os principais clientes de álcool combustível da Petrobrás, hoje, são Nigéria e Venezuela, que compram cerca de 100 milhões de litros/ano, mas a estatal já fechou contratos com o Japão e tenta acordos com a China.

Ontem, Gomes cobrou dos usineiros o aumento da produção. "Onde está o álcool? Temos estrutura para exportar, estamos investindo, mas se os produtores não têm álcool para entregar, de nada adianta", disse ele na Feira de Negócios do Setor de Energia, em Araçatuba (SP).

A cobrança irritou o presidente da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo, Luiz Eduardo Pereira de Carvalho, que cobrou do governo os estoques reguladores que controlariam a demanda, e os preços, na entressafra.

Mas os produtores não sabem o futuro do setor. "Estamos iniciando a nova safra, mas, se você perguntar quanto eles vão produzir de álcool e açúcar, eles não sabem", disse Fernando Perri, diretor da Usinas e Destilarias do Oeste Paulista.

Segundo ele, sem regras claras, a crise vai se repetir todos os anos. O setor, afirma Perri, precisa fazer contratos de longo prazo no mercado interno e aumentar a produção.

Para o secretário de Agricultura de São Paulo, Duarte Nogueira, quando a safra estiver em pleno andamento e o preço cair, usineiros, distribuidores e governo deveriam se sentar e discutir e apontar soluções para a crise.