Título: Abertura diminui a inflação, diz o Ipea
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

Enquanto o governo planeja reduzir as alíquotas de importação de uma série de produtos, visando ao combate à inflação e à queda mais acentuada do juro, um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra com números o que a teoria econômica já apontava: quanto maior o nível de abertura comercial de um país, menor a taxa de inflação. O estudo é dos economistas Adolfo Sachsida, da Universidade Católica de Brasília, e Mário Jorge Mendonça, do Ipea.

Foram pesquisados 152 países no período entre 1950 e 1992 para comprovar que os mais abertos às importações tiveram inflação inferior à dos mais fechados. "Os resultados foram extremamente robustos e, em praticamente todos os casos, encontramos uma relação negativa, estatisticamente significativa, entre inflação e abertura comercial (ou seja, mais abertura, menos inflação)", escrevem os autores. "O estudo mostra que a abertura é um poderoso instrumento de combate à inflação", disse Sachsida ao Estado.

O material mostra que o benefício ocorre de forma generalizada e não somente para grupos seletos de países. "Além disso, mostra que essa relação não é específica de um grupo ou de determinado período de tempo."

A pedido do Estado, Sachsida fez uma seleção menor, com 25 países, incluindo o Brasil, mostrando o grau de abertura e o nível médio de inflação de 1970 a 2002. Nesse grupo, o nível médio de abertura comercial (calculado pela relação importações/Produto Interno Bruto) foi de 25,8% ao ano e a taxa média de inflação foi de 17,2%. O Brasil, 2.º país mais fechado no grupo selecionado, teve no período abertura média anual de 8,4% e inflação média de 83,6% ao ano. A Malásia, com maior índice de abertura (64,1%), teve inflação média de 4% ao ano.

No levantamento, o professor colocou países com dados que contrariam a experiência, como a Índia, que teve abertura média anual de 8,5% no período e inflação média de 8%. "Isso mostra que há outras formas de combater a inflação. A abertura econômica é um instrumento de combate à inflação, mas não é o único." Sachsida fez menção os dados dos Estados Unidos, cuja taxa de abertura foi de 10,1% mas não são um país fechado. O índice é baixo porque o PIB americano é muito grande. A inflação média dos EUA foi de 4,3%.

Falando do Brasil, ele disse ser mais simpático à abertura geral da economia, e não a uma redução de tarifas de importação de setores oligopolizados. "Quando o governo não diminui impostos, prejudica todos os consumidores em prol de um grupo de empresários e trabalhadores de um setor."

Zeina Latif, economista do banco ABN Amro, concorda: "No curto prazo, certamente haverá setores perdedores. Mas uma abertura generalizada, horizontal, melhora a alocação de recursos na economia, leva o país a adquirir tecnologia, gerando ganhos de produtividade. Permite aumento no investimento e maior crescimento que, juntos, num ambiente de inflação menor, aumentam a sensação de bem-estar da população." Segundo ela, a maior abertura comercial reduz as oscilações no câmbio e, com isso, reduz a incerteza inflacionária.

O chefe do escritório da Comissão Econômica da América Latina e Caribe, Renato Baumann, destaca que todo processo de abertura envolve "custos de ajuste" por implicar perdas para as empresas. Para ele, é preciso considerar o tempo de adaptação das empresas ao processo de abertura e as diferenças de custo de capital entre os países.

Ele lembrou a história da industrialização brasileira que, por meio de proteção, legou ao País pólos siderúrgicos, petrolíferos, indústria automotiva competitiva. "Se a teoria fosse levada ao pé da letra, não teríamos essas indústrias."