Título: Costa ataca oferta européia para TV
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2006, Economia & Negócios, p. B11

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse ontem que governo brasileiro quer que o compromisso de produzir semicondutores no Brasil seja assumido pelos governos detentores do padrão de TV digital, e não apenas pela iniciativa privada daqueles países. Na semana passada, a empresa franco-italiana ST Microeletronics entregou ao governo brasileiro uma carta demonstrando interesse de instalar no Brasil uma fábrica de chips, usados em televisores digitais. Para o ministro, defensor do padrão japonês, a proposta dos europeus é "mirabolante" e "de última hora".

"Os empresários dizem uma coisa, mas queremos saber se o governo dá suporte a isso." Com a oferta da STM, o padrão europeu voltou a concorrer com o japonês, que já havia sinalizado a possibilidade de instalar uma indústria desse tipo no Brasil. "Na sexta-feira, quando fizemos aquela grande reunião, apareceu lá uma carta da STM, fazendo mais ou menos uma cópia daquilo que os japoneses tinham feito", afirmou Costa.

Na segunda-feira, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, recebeu embaixadores da Finlândia, Alemanha, Áustria, França, Itália e União Européia para discutir o assunto. Hoje, haverá nova reunião entre europeus e os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, Dilma e o próprio Costa. "Acho que eles (europeus), na verdade, acordaram para esse procedimento", disse o ministro referindo-se às negociações com os governos. "Nós tentamos fazer isso e não conseguimos. Com os japoneses conseguimos."

Ao comentar a proposta dos europeus, Costa disse que os detentores do padrão americano "foram muito mais honestos e sinceros" porque disseram que não poderiam atender a todas as exigências técnicas do governo brasileiro neste momento. "Eu estou mais para acreditar nos honestos do que naqueles que fazem propostas mirabolantes de última hora." Costa continua insistindo na idéia de que o padrão europeu precisa de adaptações técnicas para atender às exigências, mesmo que venha a ser confirmada a instalação da fábrica por indústrias européias.

Segundo o ministro, o sistema europeu não está preparado para oferecer televisão digital em alta definição, com mobilidade e portabilidade, no canal de 6 megahertz, como quer o Brasil, precisando de um canal adicional. "Nossa preocupação é que o Brasil possa ter televisão aberta, com um sistema de modulação (transmissão) que atenda a essa dificuldade que nós temos. Qualquer dos modelos que atender a essa situação técnica, para mim está bom."

Ele ressalta, no entanto, que a instalação da fábrica é uma possibilidade que tem de ser explorada. Costa disse que ainda não se falou em valores para a instalação da fábrica, mas uma indústria dessas exige um investimento de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões. Ontem, o ministro recebeu em seu gabinete o embaixador do Japão, Takahiko Horimura. Nenhum dos dois quis dar detalhes do que foi tratado no encontro.

No dia 10 vencia o prazo para escolha do padrão de TV digital que será adotado no Brasil, mas foi adiado por tempo indeterminado a pedido dos nove ministros que compõem o Comitê de Desenvolvimento do Sistema Brasileiro de TV Digital. Costa espera que a decisão saia ainda neste mês. "Os entendimentos estão indo tão bem que já despertaram até o interesse dos europeus." Fazem parte da coalizão que defende o modelo europeu as empresas Nokia, Philips, Siemens, Rohde Schwarz, STM e Thales. Do lado japonês, estão a Panasonic, Sony, Semp Toshiba e NEC.