Título: Exército deixa favelas do Rio e tráfico comemora soltando fogos
Autor: Rodrigo Morais, Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2006, Metrópole, p. C3

Militares evitam caracterizar retirada completa, mas deixaram até a Providência, maior foco de resistência à ação

O Exército praticamente encerrou ontem a Operação Asfixia, iniciada há dez dias para recuperar dez fuzis e uma pistola roubados de um quartel. Saiu de pelo menos cinco das favelas que ocupara na busca ao armamento ¿ Providência, Mangueira, Metral, Complexo do Alemão e Estação de Manguinhos. O Comando Militar do Leste (CML) tinha informado que só suspenderia as ocupações quando encontrasse as armas.

O Centro de Comunicação Social do Exército (Cecomsex) informou à noite em Brasília que a Operação Asfixia não acabou, houve apenas uma mudança de estratégia. Mas não revelou em quais favelas o Exército permanece. À tarde, uma denúncia anônima levou soldados a um supermercado desativado perto do Morro do Borel, na Tijuca, zona norte. As tropas não tiveram sucesso na busca das armas e deixaram o local.

Desde o início da operação, 1.500 soldados já ocuparam 12 favelas. Eles tinham saído da maioria delas, como Jacarezinho, Vila dos Pinheiros e Parque Alegria, na semana passada. A presença das tropas só era mais ostensiva nos locais onde ocorreu a retirada ontem.

À tarde, quando só estavam confirmadas a desocupação dos Morros da Providência e da Mangueira, o coronel Paulo Meira, da Comunicação Social do CML, evitou usar os termos desocupação e retirada. ¿Eu não diria que eles saíram (dos morros). Hoje é um dia caracterizado por grande mobilidade¿, disse, sem dar detalhes sobre a movimentação das tropas. ¿Amanhã (hoje) as posições estarão consolidadas.¿

O CML admitiu no sábado que mudaria a estratégia da operação, privilegiando buscas pontuais feitas com base em informações passadas ao Disque-Denúncia. Mas garantiu que manteria presença maciça no Morro da Providência ¿ principal foco de resistência do tráfico à presença das tropas.

Na madrugada de ontem houve novo tiroteio na Providência. A tensão se desfez no início da tarde, quando os soldados deixaram o local. Na Ladeira do Barroso, principal acesso ao morro, onde houve intensos tiroteios nos últimos dias, o clima era de tranqüilidade. Moradores demonstravam satisfação com a saída dos soldados, comemorada pelo tráfico com fogos de artifício.

Também houve tiroteio na madrugada na Favela Metral, em Bangu, zona oeste. O CML informou que, por volta das 2h30, 200 moradores fizeram um protesto e provocaram os soldados. Dois traficantes armados com fuzis teriam participado do ato e atirado. Os militares reagiram. Apesar do tumulto, ninguém ficou ferido.

À tarde, o Exército vasculhou instalações desativadas de um supermercado Carrefour na Tijuca. Militares posicionados na Rua Conde de Bonfim observavam o Morro do Borel. Pouco após 16 horas, tiros foram disparados no alto da favela.

O menino Genilson Batista dos Santos, de 12 anos, continua internado no Hospital Souza Aguiar, no centro. Na sexta-feira, ele foi baleado no braço esquerdo e teve fratura exposta. Morador da Providência, Genilson foi operado e, segundo a Secretaria de Saúde, está bem, mas sem previsão de alta.

A Operação Asfixia foi desencadeada depois que sete homens invadiram o Estabelecimento Central de Transportes do Exército, em São Cristóvão, zona norte, no dia 3. Eles agrediram soldados e roubaram dez fuzis e uma pistola.