Título: Perdendo importância
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2006, Notas e Informações, p. A3

A economia brasileira vem perdendo espaço na economia mundial. Faz dez anos que nosso crescimento é menor do que a média da expansão do mundo. Nas últimas décadas, houve outros períodos em que esse fenômeno ocorreu, mas nunca se registrou uma fase de baixo dinamismo do País tão longa como a atual. A última vez que o PIB brasileiro se expandiu mais do que o mundial foi em 1995.

Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que, nos últimos dez anos, apenas em dois, 2000 e 2004, o ritmo de crescimento da economia brasileira se aproximou do mundial. Em três, 1998, 1999 e 2003, foi cerca de 3 pontos porcentuais menor do que o da economia mundial. Em 2005, quando o PIB brasileiro cresceu 2,3%, o mundial registrou expansão de 4,3%. Na média dos últimos dez anos, o Brasil cresceu 2,2% ao ano, 1,6 ponto porcentual menos do que o mundo.

Os resultados acumulados de 1996 a 2005 são mais impressionantes. A economia brasileira cresceu 22,4%, mas a mundial cresceu mais do dobro, 45,6%. Comparados com o aumento da população, esses números resultam na expansão do PIB per capita brasileiro de apenas 0,7% ao ano; no mundo, o crescimento foi de 2,6%.

Nos sete países mais desenvolvidos do mundo, que compõem o G-7, o PIB per capita cresceu em média mais do que 1% ao ano no período 1996-2005. Até mesmo países latino-americanos cujo grau de desenvolvimento é comparável ao do Brasil apresentaram resultados melhores. O PIB per capita cresceu à média anual de 0,9% na Argentina, 2,8% no Chile e 2,1% no México. Estamos melhor do que a Venezuela, que viu seu PIB per capita diminuir 0,5% ao ano durante o período considerado no estudo da CNI - mas isso não serve de consolo.

Muito pior fica o desempenho brasileiro quando comparado com o de países que, nos últimos dois anos, vêm sendo citados, com o Brasil, como as futuras potências mundiais, como Rússia, Índia e China. Nesses países, o crescimento médio anual do PIB per capita entre 1996 e 2005 foi, respectivamente, de 4,3%, 4,4% e 7,7%, bem acima da média mundial.

Em relatório publicado em outubro de 2003, o banco de investimentos Goldman Sachs apontou Brasil, Rússia, Índia e China como os países que, em 2050, terão as maiores economias do mundo. Foi esse relatório que utilizou pela primeira vez a sigla Brics para se referir aos países com maior potencial de crescimento nas próximas décadas. Os números acima e particularmente o fraco desempenho da economia brasileira em 2005 criaram, entre os analistas internacionais, certo ceticismo a respeito do Brasil. Mesmo assim, os economistas do banco continuam a defender sua previsão de que, em menos de 50 anos, o Brasil estará entre as cinco maiores economias do mundo, observando que, para isso, basta que a economia cresça entre 3% e 4% ao ano até 2050.

Não é impossível. Afinal, a economia brasileira já cresceu bem mais do que isso, e durante um período bastante longo. Mas o que se pergunta é se ela está em condições de repetir o fato.

Seja como for, a conclusão do estudo da CNI não chega a surpreender, pois os dados nos quais ela se baseou são conhecidos. Mas há, no baixo vigor da economia brasileira, uma regularidade que intriga. Por que o País não consegue deslanchar?

Nas duas últimas décadas, o Brasil enfrentou crises difíceis, como a da dívida externa e a da superinflação. Adotou políticas equivocadas que, embora tivessem resultados de curto prazo em alguns casos, atrapalharam o crescimento. Avançou em alguns campos, como o da abertura da economia, da privatização, da criação de instituições que dão maior segurança aos investimentos e da estabilização econômica, mas ainda enfrenta problemas estruturais graves. O sistema tributário é excessivamente oneroso para os contribuintes e o regime fiscal conduz ao crescimento ininterrupto de gastos que não resultam em benefícios para a sociedade e para a economia. Esse regime reduz os investimentos e inibe o consumo.

Nos últimos três anos, aos problemas estruturais juntou-se uma gestão pouco competente dos recursos públicos e marcada por denúncias de corrupção e uso político do aparelho estatal, o que piora o quadro.