Título: PF fecha o cerco a mandante da violação
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2006, Nacional, p. A4

A Polícia Federal já interrogou um dos dois gerentes da Caixa suspeitos de terem violado a conta do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, e está muito perto de chegar aos superiores que deram a ordem, dentro e fora da instituição.

"Muito em breve, talvez até amanhã (hoje), toda a cadeia de comando será desvendada e seus autores levados à Justiça para que possam ser punidos exemplarmente", declarou o diretor-geral da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda.

Ele negou com veemência as insinuações de que a PF esteja fazendo "corpo mole" ou envolvida com algum tipo de operação-abafa. Mas ressalvou que os nomes já identificados serão tratados com cuidado, primeiro porque a culpa não está estabelecida e depois porque são de escalão inferior na hierarquia e agiram sob ordens, sem necessariamente saberem da motivação criminosa.

O depoimento do presidente da Caixa, Jorge Mattoso, previsto para hoje à tarde, é visto como decisivo para o esclarecimento das últimas dúvidas da PF com relação ao caso.

Mattoso deixou de comparecer à convocação anterior, na quinta-feira passada, mas a PF insistiu em ouvi-lo porque entende que há muitos pontos nebulosos nas explicações dadas até agora pela Caixa.

REPUTAÇÃO

"Não vamos destruir a reputação de ninguém com base em insinuações e suspeitas, vamos seguir todos os passos da lei", avisou Paulo Lacerda, referindo-se ao depoimento do presidente da Caixa.

O delegado Rodrigo Carneiro, encarregado do inquérito, deve receber hoje as fitas do circuito interno da Caixa e o registro de entradas e saídas de pessoas na sede da instituição, onde Mattoso despacha.

O objetivo é detectar quem esteve no prédio no último dia 16, data em que foi acessada a conta de poupança do caseiro e retirados seus extratos a partir de um laptop usado por um dirigente do alto escalão da Caixa.

Localizado em São Paulo, depois de ser retirado inexplicavelmente da sede da Caixa pelo tal dirigente da Caixa, o laptop foi lacrado na presença da PF e será periciado no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília.

A perícia vai checar se as informações da Caixa batem com os dados do computador. Vai diagnosticar se houve adulteração da máquina para apagar operações desde a retirada dos extratos do caseiro, na noite de 16 de março, até a entrega do equipamento, na sexta-feira.

Em entrevista ao Estado, Francenildo acusou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de freqüentar uma mansão alugada em Brasília por lobistas de Ribeirão Preto. Na última sexta-feira, Palocci disse que "não pode debater acusações baixas".

Depois da entrevista, o caseiro teve o sigilo bancário quebrado ilegalmente na Caixa e passou a sofrer uma devassa de órgãos fiscais do governo, vinculados em última instância a Palocci, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras.

A PF quer investigar a origem de R$ 25 mil depositados na conta de Nildo, entre janeiro e março. Ele declarou que o dinheiro foi creditado em sua conta por seu pai, empresário no Piauí. A Procuradoria da República entrou com habeas-corpus contra essa parte da investigação da PF.