Título: Saída é inevitável, diz 'Financial Times'
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2006, Nacional, p. A5

O jornal inglês Financial Times, referência para a comunidade financeira internacional, afirma que "parece ser inevitável que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, renuncie até o dia 31 de março" - data-limite para os ocupantes de cargos públicos deixarem o governo se pretendem se candidatar nas eleições de outubro. Segundo o diário britânico, os investidores deveriam monitorar o assunto com mais cautela.

"Esse pretexto é conveniente: a posição de Palocci se tornou insustentável desde que ficou claro, ao longo das últimas duas semanas, que ele mentiu para uma comissão parlamentar de inquérito", disse o jornal britânico em sua edição online de ontem.

Segundo o jornal, os mercados financeiros não devem reagir se Palocci sair. "Ocorreram leves tremores entre os investidores na semana passada, embora nada que possa ser comparado aos ocorridos no início do mês, quando os mercados ficaram receosos que as taxas de juros nos EUA, Europa e Japão pudessem subir mais do que o esperado", disse. "Ambos os movimentos provavelmente refletem pouco mais do que um ponto de realização de lucros, e o real está de novo na cotação de R$ 2 diante do dólar."

O Financial Times alerta que pode estar havendo "complacência" dos mercados diante da possibilidade de renúncia do ministro. "Não há ninguém dentro ou perto do governo que combine o compromisso com a ortodoxia de Palocci com sua força de caráter e influência sobre o PT." E acrescenta que "muitos integrantes do PT, incluindo ministros, são críticos das políticas de Palocci". "Pessoas com acesso ao presidente têm solicitado uma mudança de direção. Eles querem que 2006 seja o primeiro ano do segundo mandato de Lula."

O jornal observa que Lula não deverá alterar a política econômica antes das eleições. "Mas, se ele for reeleito, quem vai chefiar o Ministério da Fazenda?" O diário cita uma análise da consultoria norte-americana Credit Sights, que afirma que a saída de Palocci vai empurrar o centro do cenário político brasileiro para a esquerda e ameaçar a implementação de novas reformas, quem quer que seja o vencedor das eleições em outubro.