Título: Olmert expõe plano para fronteira
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2006, Internacional, p. A9

Favorito para as eleições gerais de amanhã, o primeiro-ministro em exercício de Israel, Ehud Olmert, encerrou ontem a campanha do partido Kadima, numa tentativa de vencer a apatia dos eleitores. Para tentar motivar o eleitorado, Olmert evocou em seu discurso o legado de seu predecessor, Ariel Sharon - cuja popularidade era altíssima antes de sofrer um derrame, em janeiro, que o mantém em estado de coma até hoje.

Olmert tem como proposta remover parte das colônias da Cisjordânia e estabelecer as fronteiras definitivas de Israel com os palestinos. Empenha-se em levar adiante a política desenhada por Sharon de separação unilateral dos territórios palestinos - iniciada com o desmantelamento dos assentamentos judaicos da Faixa de Gaza. Pela proposta, a atual barreira de segurança que separa o território israelense das áreas palestinas seria convertida em fronteira permanente. Com isso, Israel anexaria o assentamento de Maale Adumin, na periferia de Jerusalém, a colônia de Ariel, o bloco de Gush Etzion e uma zona de segurança no Vale do Rio Jordão. As duas porções de Jerusalém, a ocidental e a oriental - esta última ocupada por Israel desde 1967 -, também ficariam do lado israelense da fronteira.

Olmert prometeu realizar uma consulta interna sobre o plano e acertar sua aplicação ouvindo apenas a opinião do governo dos EUA - deixando à margem os palestinos.

"Devemos decidir nossas fronteiras. Trata-se de entrarmos num acordo sobre o seu traçado entre nós mesmos e depois negociarmos com os EUA e a comunidade internacional", discursou Olmert.

Um dos principais adversários de Olmert na disputa, o ex-primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, do partido conservador Likud, se opõe ao plano de desmantelar os demais assentamentos da Cisjordânia.

As últimas pesquisas indicam que o Kadima deve conquistar 35 das 120 cadeiras da Knesset (o Parlamento israelense). Os trabalhistas conquistariam 20 cadeiras e o Likud, 15. As demais vagas seriam preenchidas por pequenos partidos - entre os quais os religiosos.

O serviço secreto alertou ontem que há 17 ameaças específicas de atentado e outras 70 mais gerais, que despertaram a preocupação de todos os órgãos de segurança. Há o temor de ataques com carro-bomba, atentados suicidas, seqüestros e disparos contra veículos de colonos na Cisjordânia, segundo a imprensa local.

Para facilitar a disponibilidade das forças militares amanhã, os soldados do Exército israelense começaram a votar ontem. "O Exército antecipou o processo eleitoral para que nenhum soldado seja impedido de exercer o voto", afirmou ao jornal Yediot Aharonot o coronel Yossi Sulenik, responsável pelo processo eleitoral no Exército.

Pelo menos 22 mil homens das forças de segurança de Israel foram convocados para garantir a votação em cerca de 10 mil locais.

O cerco aos territórios palestinos foi prorrogado até o fim do mês, o que se traduz em restrições de circulação e toques de recolher nas áreas ocupadas.