Título: Safra testa operação tapa-buraco
Autor: Fabíola Salvador, Leonardo Goy
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Colheita começa neste mês e governo garante que estradas estão em melhores condições para escoar produção

Criticada pela oposição e por alguns técnicos da área de rodovias, a operação tapa-buraco, iniciada em janeiro pelo governo federal, enfrentará importante teste a partir do fim deste mês, quando começa a ser escoada a safra agrícola do período 2005/06.

A avaliação dentro do governo é que, diante das inúmeras dificuldades que têm assolado a agricultura nos últimos dois anos, os produtores poderão encontrar, em 2006, condições melhores no período de escoamento dos grãos.

O programa emergencial de obras, que prevê a recuperação de 26,7 mil quilômetros de estradas federais, privilegiou boa parte dos corredores de escoamento da produção agrícola, estimada em 124,403 milhões de toneladas na safra atual.

"Os produtores terão menos dificuldade para escoar a produção", afirma o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Jacinto Ferreira. Ao sair a campo para fazer estimativas sobre o tamanho da safra nacional, os técnicos da estatal sempre aproveitam para observar a situação das principais vias de escoamento e a capacidade de armazenamento nas regiões produtoras.

As informações colhidas pelos técnicos da Conab até o fim do ano passado ajudaram o Ministério dos Transportes a traçar um perfil das estradas do País e a planejar o roteiro da operação tapa-buraco.

A torcida da Conab é para que as obras nas rodovias mais importantes para o escoamento dos grãos sejam concluídas até o dia 23, pois o grande volume da safra começa a ser escoado a partir do fim do mês.

Desde o início da operação tapa-buraco, no dia 9 de janeiro, até o dia 2 de março, 47,4% do programa havia sido concluído. Em Mato Grosso, um dos principais produtores de soja do País, o governo já tapou buracos em cerca de 880 quilômetros de rodovias, ou 68% da meta que havia sido estabelecida para o Estado.

BOAS CONDIÇÕES

O diretor de Gestão de Estoques da Conab, Pedro Beskow, elogia, por exemplo, as condições da BR 364, rodovia importante para o transporte da safra de Mato Grosso para Porto Velho (RO), no corredor do Rio Madeira. Segundo ele, os técnicos da Conab percorreram alguns trechos da rodovia na região de Ji-Paraná e atestaram que, onde as obras já foram executadas, a pista está em boas condições.

Luiz Antônio Fayet, consultor de logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), avalia que a situação melhorou em algumas áreas, mas, em sua opinião, ainda há trechos difíceis de trafegar. "As chuvas mantiveram algumas estradas intrafegáveis. Podemos dizer que a situação 'despiorou'", diz ele.

O fato é que a safra brasileira é altamente dependente das estradas. De acordo com estimativas da Conab, mais de 64% da produção agrícola é escoada por meio das rodovias. Nos Estados Unidos, as estradas ocupam a terceira posição na lista de modais para o escoamento da safra, atrás das hidrovias e das ferrovias.

Além de ser caro, transportar grãos pelas estradas representa perda física. De acordo com Ferreira, entre 8% e 10% da produção agrícola é perdida no estágio de "pós colheita", ou seja, entre a armazenagem nas fazendas até o consumidor final ou exportação. Ele não quantificou a melhora com as obras da operação tapa-buraco.

O presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), Nélio Botelho, demonstra ceticismo em relação à situação das estradas. Apesar de reconhecer que as pistas estarão, neste ano, em situação melhor do que na safra passada, o representante dos caminhoneiros autônomos afirma que "continuará havendo dificuldades para o transporte pelas rodovias."

Assim como já disseram diversos parlamentares da oposição e técnicos em rodovias, Botelho diz que a operação tapa-buraco "é uma solução apenas momentânea."

PORTOS

Para Fayet, tão importante quanto a recuperação das estradas é definir uma estratégia para os portos. "Os produtores têm outras dificuldades e a situação dos portos é uma delas", diz o consultor da CNA.

Segundo Fayet, o Brasil terá 3 milhões de toneladas a mais de soja para embarcar este ano. São três os principais pontos de saída da safra agrícola: São Francisco do Sul, Paranaguá e Santos.

"São Francisco não tem capacidade para ampliar os embarques e Porto de Santos dificilmente conseguirá ampliar as exportações, pois está operando no limite de sua capacidade", afirma Fayet.

O único porto que poderia absorver a quantidade de soja seria o de Paranaguá, mas o governo do Paraná não permite o transporte de grãos transgênicos pelo porto local. O consultor da CNA lembra que "os embarques por Paranaguá caíram em 2005. "