Título: Rodada Doha vai ter novo capítulo no Rio de Janeiro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2006, Economia & Negocios, p. B3

A ameaça de a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) degringolar no final de abril motivou nova tentativa de acerto entre Estados Unidos, União Européia e Brasil. No próximo dia 1º, no Rio de Janeiro, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tratará dos entraves da negociação com o comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson, o representante americano para o Comércio, Rob Portman, e o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy.

Ainda falta a confirmação da presença do ministro do Comércio e da Indústria da Índia, Kamal Nath. Ao lado do Brasil, a Índia lidera o G-20, grupo das economias em desenvolvimento da OMC que insistem na liberalização do mercado agrícola, no fim dos subsídios à exportação e na redução das subvenções a agropecuaristas. O Itamaraty aproveitou a visita de Mandelson ao Brasil, entre os dias 29 de março e 2 de abril, para propor mais esse esforço.

A reunião ocorrerá sete dias depois da séria advertência de Lamy na Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu sobre o pouco tempo para concluir as negociações iniciadas há quatro anos. O diretor-geral teme que os países não consigam entrar em acordo até 30 de abril, data que deveria marcar o início da fase de costura final do acordo.

Lamy deixou claro que não é aleatório o prazo de 31 de dezembro deste ano para que as negociações sejam concluídas. A partir de 2007, extinguirá a vigência do mandato do governo dos Estados Unidos para negociar acordos comerciais, emitido pelo Congresso americano. Sem esse instrumento, qualquer acordo fechado pela Casa Branca pode ser alterado pelo Senado. "O fracasso destas negociações nos custaria crescimento econômico. Seria um fracasso para todos os membros da OMC", alertou Lamy.

Desde meados de 2005, o impasse das negociações é a oferta de acesso a mercados na área agrícola apresentada pela União Européia (UE) e considerada insuficiente pelas economias em desenvolvimento. Na Conferência Ministerial da OMC em Hong Kong, em dezembro passado, o maior avanço se deu com o compromisso de eliminar os subsídios às exportações agrícolas até 2013. Agora, a UE resiste em propor algo mais ambicioso e Lamy destacou que os europeus terão de fazer mais concessões.

Para Amorim, os países ricos terão de fazer sacrifícios. "Se todos nos movermos ao mesmo tempo, há possibilidades de um acordo", defendeu. "Todo mundo crê que a oferta da UE é pobre e isso é o que detém a Rodada Doha."

O encontro de sábado deverá alterar o roteiro de Mandelson no Brasil, com o risco de sacrifício de sua passagem por Brasília na sexta-feira, informou o embaixador da UE no Brasil, João Pacheco. Pode ser que o encontro com o presidente Lula não se realize. D.C.M.