Título: Situação de Palocci dificulta organização
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2006, Economia & Negocios, p. B1

A crise envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e a iminência de uma reforma ministerial deixam os organizadores da reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de cabelos em pé. A saída dos ministros que concorrerão a algum cargo eletivo ocorrerá até sexta-feira. Especula-se que Palocci pode aproveitar para deixar o governo, diminuindo o impacto político de sua saída. Os eventos do BID começam amanhã em Belo Horizonte (MG). A troca ocorrerá em meio aos debates.

A reunião será comandada pelo principal representante do Brasil no BID, o ministro do Planejamento Paulo Bernardo. Ele está entre os que podem deixar o cargo para concorrer a deputado federal pelo Paraná. Segundo advogados, mesmo fora do governo ele poderá presidir a reunião. Na sexta-feira, a hipótese mais provável era que Bernardo continuasse no Ministério do Planejamento. Ele também está cotado para o Ministério da Fazenda numa eventual saída de Palocci. Pessoas próximas a Bernardo acham que as chances são pequenas.

Outra incerteza é a presença de Palocci. Pelo programa, ele estará em Minas dia 3, para encontro com investidores.

Nesse cenário nebuloso a certeza é uma só: o economista João Sayad, vice-presidente do BID, deixará o posto. Seu mandato ainda não acabou, mas ele ficou desgastado depois de perder a disputa pela presidência do órgão no ano passado para Luis Alberto Moreno.

Na semana passada, na bolsa de apostas da Esplanada dos Ministérios, Sayad estava entre os possíveis substitutos de Palocci. Ele é ligado ao PT e é um economista com trânsito junto ao mercado. Por outro lado, tem feito críticas à forma como o Banco Central maneja a taxa de juros. A amigos, Sayad negou ter sido sondado para integrar a equipe de Lula.

Para o lugar de Sayad no BID o Brasil indicou o atual secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy. Sua transferência era dada como certa mas, nos últimos dias, alguns integrantes do governo passaram a avaliar a hipótese de Palocci ocupar o posto em Washington. Seria uma "saída honrosa" para o ministro. Até sexta-feira nenhuma providência formal havia sido tomada nessa direção. Por outro lado, a idéia não havia sido descartada. É, portanto, uma alternativa que ainda pode ser acionada, dependendo do desdobramento dos fatos.

A tendência mais forte é Levy ir para Washington e sua nomeação ser anunciada na reunião do BID. Para seu lugar como guardião do cofre do Tesouro um dos cotados é o diretor de Estudos Especiais do Banco Central, Alexandre Tombini. Outro nome lembrado é o de João do Carmo, que tem reputação de "osso duro" e trabalhou com Murilo Portugal quando ele foi secretário do Tesouro de Fernando Henrique Cardoso.

Junto com Levy, deverá deixar o Ministério da Fazenda seu secretário-adjunto José Antonio Gragnani. Ele ocupa atualmente posto estratégico, pois comanda toda a administração da trilionária dívida pública brasileira. Para o lugar de Gragnani deverá ser recrutado algum operador do mercado.