Título: MST invade mais 6 propriedades
Autor: Monica Bernardes
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2006, Nacional, p. A7

Ocupações em Pernambuco marcam protestos pelos dez anos do massacre de Eldorado de Carajás

O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) em Pernambuco invadiu, ontem, mais seis propriedades rurais no Estado. As ocupações fazem parte de um calendário montado pelo movimento para marcar a passagem dos dez anos do episódio que ficou conhecido com o Massacre dos Carajás, quando em 1996, 19 sem-terra foram mortos na cidade de Eldorado dos Carajás (PA). Desde o início do mês, 26 áreas foram ocupadas, com a participação de cerca de 3,9 mil famílias.

As ocupações realizadas ontem ocorreram nos engenhos: Pimentel, localizado nos municípios de Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (180 famílias); Cachoeira Dantas, em Gameleira, na Mata Sul (100); Cana Brava, Oiteiro Alto, Guararapes e Maribondo, em Aliança, na Mata Norte (60 famílias em cada engenho).

Segundo a coordenação estadual do movimento, não houve confronto em nenhuma das propriedades invadidas. Há informações extra-oficiais de que o MST planeja alcançar a marca de 70 ocupações até o final do mês. A assessoria de imprensa do movimento, no entanto, evita falar em números.

Até a última sexta-feira apenas duas das áreas ocupadas durante a jornada do MST havia recebido autorização judicial para serem desocupadas. Mesmo assim, somente na fazenda Faquinha, localizada no município de Cabrobó, a Polícia Militar conseguiu efetuar o despejo das 300 famílias que estavam no local, na última terça-feira. Na ocasião houve conflito e um sete sem-terra ficaram feridos.

INSATISFAÇÃO

A maior ocupação realizada durante esta jornada foi a do Engenho São João, localizado no município de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife. Ao todo, 600 famílias estão acampadas na área.

Esta é a quarta vez que a propriedade, com 578 hectares, é ocupada pelo MST. No último mês de novembro, cerca de 900 famílias que estavam acampadas no local foram despejadas pela PM. Houve confusão e pelo menos 40 sem-terra foram presos. Parlamentares que tentavam acompanhar a desocupação foram impedidos e agredidos por policiais militares.

Insatisfeitos com a lentidão no processo de vistoria e emissão de posse em dezenas de áreas no Estado, líderes locais do MST ameaçam repetir a greve de fome - também realizada há 10 anos, quando 14 integrantes do movimento jejuaram durante 10 dias em apelo a agilização do processo de liberação do assentamento Normandia, localizado em Caruaru, Agreste do Estado. Hoje, Normandia é um assentamento-modelo, onde funciona a sede do movimento.