Título: Governador pode complicar, avalia Planalto
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2006, Nacional, p. A4

Alckmin seria um rival mais perigoso para Lula que Serra, segundo pesquisas qualitativas em poder do governo

Pesquisas qualitativas nas mãos de auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicam que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pode ser um adversário mais perigoso do que o prefeito José Serra numa campanha rumo ao Planalto. Motivo: por ser menos conhecido nacionalmente, tem chance de encarnar o figurino do anti-Lula. Os dois tucanos protagonizam uma novela bicuda para decidir quem será o candidato do PSDB à Presidência e o pêndulo, no momento, está na direção de Alckmin.

Embora não haja consenso sobre quem oferece mais risco ao presidente, a maioria aposta que Alckmin é uma "incógnita" com potencial de crescimento e chance de surpreender numa eleição com forte caráter plebiscitário - os "contra" e os "a favor" do governo petista. Nas últimas sondagens de fevereiro e março, que mediram "impressões" dos eleitores das classes C, D e E, Alckmin aparece com menor índice de rejeição do que Serra. É também considerado mais simpático do que o prefeito. O receio do Planalto é de que, com seu discurso de bom moço, Alckmin atinja corações e mentes da classe média, justamente onde Lula está mais fraco.

"Se o Alckmin é um picolé de chuchu, o Serra é um verdadeiro jiló", compara o secretário de Organização do PT, Romênio Pereira. E acrescenta: "É muito amargo." O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, por sua vez, procura não pôr mais lenha na fogueira."O bom jogador não escolhe adversário", desconversa. "Além disso, o governo tem de trabalhar."

Em análises internas, os petistas prevêem um confronto "político-ideológico" com os tucanos em torno do crescimento econômico. "(...) O PT terá de organizar um discurso didático que resgate o governo Lula como superior ao de FHC, mas, sobretudo, como capaz de dar um salto de qualidade em seu segundo mandato, a partir do trabalho realizado no primeiro", diz um dos trechos do documento reservado que trata das diretrizes para o programa de Lula à reeleição, redigido por Marco Aurélio Garcia, assessor de Assuntos Internacionais da Presidência. Em sua avaliação, o candidato da coligação PSDB-PFL lançará mão de "um discurso profundamente conservador", abordando a retomada das privatizações, a mudança da política externa e a "criminalização" dos movimentos sociais. Para Marco Aurélio, o concorrente tucano fará "acenos desenvolvimentistas" na campanha, sobretudo se for Serra.

"Vamos discutir a ousadia que o PT não teve na política monetária e fiscal", comenta o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "Se os juros não baixam, não é porque o Banco Central não quer, mas porque o governo é perdulário: fez um ajuste fiscal de baixa qualidade."

ICEBERG

Cotado para vice na chapa do PSDB, o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), é só elogios aos tucanos: diz que tanto Alckmin como Serra têm "visão de futuro". "Coisa que Lula não tem", provoca. "Aliás, essas críticas que o próprio PT faz à política econômica são a ponta do iceberg do que pode ser o segundo governo Lula: mais para Miguel Rossetto do que para Antonio Palocci", completa Agripino, irônico, numa referência aos ministros do Desenvolvimento Agrário e da Fazenda. Rossetto já avisou a Lula que pretende disputar o Senado e deve deixar o cargo no dia 31.

"O PT tem o direito de ter opinião", defende o secretário-geral do partido, Raul Pont, da facção Democracia Socialista. "É um equívoco essa obsessão pela política de juros altos para combater a inflação, mas a equipe econômica parece não ter ouvidos para o Brasil real." Enquanto o PT e o governo batem boca sobre a plataforma da reeleição, o PSDB vive dias de angústia para escolher o candidato.