Título: Animado com possível escolha, Alckmin já fala contra a reeleição
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2006, Nacional, p. A4

Ao contrário do governador, prefeito José Serra evita fazer comentários sobre disputa interna do PSDB

Decidido a levar até o fim a disputa com o prefeito José Serra em torno da candidatura do PSDB à Presidência, o governador Geraldo Alckmin repetiu ontem que deixará o cargo no dia 31. Disse que não há "fato novo" que justifique o adiamento da decisão do partido - prometido pelo presidente tucano Tasso Jereissati (CE) para amanhã -, mas insistiu em que seguirá tranqüilo caso tenha de enfrentar uma consulta interna sobre seu nome. Num sinal claro para Serra, comprometeu-se a apoiar o fim da reeleição, o que já havia dito à cúpula tucana na sexta-feira.

"Ter eleição todo ano não acho bom", declarou, referindo-se à proposta de substituir a reeleição por um mandato de cinco anos. "Você pode ter, isto sim, é quatro anos sem reeleição. Como sempre foi. Não vejo nenhum problema. Isso é emenda constitucional e depende do Congresso." Na reunião de sexta-feira, Alckmin, Tasso, o ex-presidente Fernando Henrique e o governador Aécio Neves (MG) chegaram a discutir a hipótese improvável de aprovar o fim da reeleição no Congresso ainda este ano. O governador negou ontem que o tema influenciará a decisão do partido.

Aliados do governador já consideram seriamente a hipótese de que a definição tucana será postergada e, amanhã, seriam revelados só os critérios e a instância partidária que terá a palavra final sobre o candidato. Até a agenda do governador sugere isso. Amanhã, Alckmin estará no Rio. "Não aposto numa decisão definitiva agora", afirmou um secretário de Estado.

Ex-líder do PSDB na Câmara, ligado a Serra, o deputado Alberto Goldman (SP) tratou ontem como necessária uma "avaliação nacional concreta" no partido em torno de seu representante para disputar a sucessão do presidente Lula. Serra esperava ser aclamado antes de oficializar a disposição de concorrer e, portanto, abandonar a Prefeitura. Alckmin não recuou e o prefeito sofre intensa pressão de integrantes de seu grupo político para encarar o processo de consulta, mesmo que informal. "É possível que a gente tenha de chegar a reunir um foro partidário, algum instrumento representativo do partido que vai tomar a decisão", disse Goldman. "Pode ser uma disputa ou uma simples avaliação do partido. Os dois candidatos aceitam uma decisão do coletivo."

TRIUNVIRATO

Não se trata de uma prévia, segundo informou um dirigente tucano, mas uma costura política que leve em consideração a opinião de governadores e bancada federal, além do triunvirato formado por Tasso, Aécio e Fernando Henrique. Alckmin negou que tenha se encontrado com o prefeito ontem, ou que o fará hoje, mas os dois conversaram por telefone mais de uma vez e não estava descartada uma reunião.

"Estou animadíssimo (para o anúncio amanhã)", afirmou o governador, depois de fazer uma visita-surpresa à Bienal do Livro, no Anhembi. "Mas também se não sair (a decisão) não vai ser o fim do mundo." Segundo ele, "não há fato novo" que justifique o adiamento do anúncio. "Mas, para mim, não há problema. Stress zero."

Fiel à própria campanha, o governador não só desfilou por mais de duas horas pela Bienal , distribuindo beijos, abraços e autógrafos, como, na saída, parou no canteiro da Marginal Tietê para recolher lixo, sob a mira de câmeras de televisão, um fotógrafo e alguns jornalistas. As obras de aprofundamento da calha do Tietê - um dos estandartes de seu governo - serão entregues no domingo, revelou, suado e sujo de lama. Cinco assessores o ajudaram no "pequeno mutirão". O lixo foi parar no porta-malas de um dos veículos da comitiva. Pouco antes, avisou que a entrega das estações Imigrantes e Chácara Klabin do Metrô, no dia 31, seriam sua despedida.

Horas depois da visita, Serra apareceu na Bienal do Livro, acompanhado da mulher, Mônica, do genro e do neto Antônio, de três anos. Ao ver jornalistas, irritou-se e ameaçou deixar o local se fosse perguntado sobre a candidatura presidencial.

No mesmo Anhembi, Alckmin fez duros ataques ao governo Lula. "O Brasil precisa de estabilidade. Precisa de segurança", declarou, ao criticar a depredação do viveiro da Aracruz Celulose, no Rio Grande do Sul, promovida por sem-terra. "E a gente vê a omissão do governo Lula, que é lerdo na reforma agrária e é omisso e cúmplice nas invasões." Ele evitou comentar a hipótese de Serra ser candidato a sua sucessão, como parte do acordo que o garante como presidenciável. São decisões independentes, destacou.