Título: Incentivo às demissões na Varig
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2006, Economia & Negócios, p. B15

Empresa pretende cortar cerca de 1,5 mil vagas em dois meses

A Varig abriu esta semana um Programa de Desligamento Voluntário (PDV). O programa se junta a um Programa de Incentivo à Aposentadoria (PIA), em vigor desde o início de janeiro, e ao aumento da concessão de Licenças Sem Vencimentos, dentro de uma política de redução de quadros. A empresa não revela as metas mas, de acordo com a assessoria de comunicação, o objetivo é adequar o corpo funcional a uma frota de 63 aeronaves neste semestre, e de 69 jatos até o final do ano - como previsto no plano de recuperação judicial aprovado em dezembro pelos credores. Fontes na empresa revelam que a meta é reduzir em torno de 1,5 mil funcionários em 2 meses - a Varig tem 11,5 mil funcionários.

Em 2 meses, o PIA atraiu apenas 105 funcionários. Outros 144 funcionários estão afastados em licença, sendo 132 pilotos e co-pilotos e 12 funcionários de solo (aeroviários). Para a presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, o anúncio do PDV seria um indicativo de que a Varig "não conseguiu atrair o número de voluntários esperado" para os outros programas. "Agora, é a última chamada antes de a empresa ter de promover uma demissão em massa", diz.

Selma acredita que haverá mais adesões ao PDV, que é um programa mais amplo, uma vez que há "muita gente desmotivada" na empresa. "Nos últimos três meses, aquele gás que o 'variguiano' tinha, acabou", diz Selma. "Muitas pessoas estão vendo que é melhor sair agora e receber alguma coisa do que esperar e correr o risco de não receber nada, se a empresa quebrar."

O PDV foi anunciado na terça-feira pelo presidente da Varig, Marcelo Bottini, em carta enviada aos funcionários. O plano é aberto a todos os trabalhadores da empresa, de qualquer área. Aqueles que aderirem receberão as verbas rescisórias, inclusive a multa de 40% do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Não haverá incentivos, como salários extras, como acontece em muitos PDVs. A empresa explica que cada caso será negociado individualmente. Nessa negociação ficarão estabelecidos, por exemplo, os prazos para o pagamento da rescisão. A empresa se reserva o direito de aceitar ou não a demissão, em função não apenas dos custos, como da necessidade de manter funcionários indispensáveis.

Além de menos traumático do que um corte "de cima para baixo", o PIA e o PDV permitem ainda à Varig demitir os funcionários mais antigos da área operacional de vôo, como pilotos, que recebem adicional de salário por antiguidade. Por conta de convenções coletivas de trabalho, a empresa é obrigada a demitir os mais novos primeiro. Como os planos são voluntários, a regra não se aplica.

A Varig informou que todas as regras foram estabelecidas "a partir de negociações com sindicatos e associações profissionais". Antes de serem anunciados, os programas foram ainda apresentados à equipe de juízes que acompanha a recuperação judicial da companhia.

A categoria dos pilotos é considerada pela empresa aquela em que há mais gordura para queimar. "Nos últimos dez anos, as áreas contábil e administrativa tiveram seus quadros reduzidos praticamente à metade", explica a fonte na empresa. "Mas na área de vôo, que é onde se concentram os maiores salários, apesar de ter havido uma enorme redução de frota, o quadro funcional praticamente não se alterou."

NOVO GESTOR

No próximo dia 23, os credores da Varig irão se reunir para escolher o novo gestor da companhia e também o banco que irá administrar o Fundo de Investimento e Participação (FIP), que passará a deter o controle da empresa. Estão cotados para assumir a gestão da companhia as consultorias Integra, Galeazzi e Alvarez & Marsal.