Título: BC do Japão abandona política de juro zero
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

Após 5 anos, combate passar a ser contra o risco inflacionário e não mais contra a deflação

O Banco do Japão (BJ, o banco central japonês) anunciou ontem o fim de sua política de relaxamento monetário com taxa de juro próxima a zero, que nos últimos cinco anos foi usada para combater a deflação e estabilizar o sistema financeiro.

A decisão mostra que a economia está se recuperando de forma estável, apoiada tanto pela demanda interna como pela externa, indicou o presidente do banco, Toshihiko Fukui, para quem a medida garante a "transparência e mobilidade" ao sistema monetário japonês.

O comitê de política monetária do banco decidiu por maioria, no fim de dois dias de reunião, que deve voltar à política convencional de controlar os mercados monetários mediante a alta ou a redução da taxa de juro.

Desde março de 2001, o banco aumentava a liquidez do sistema financeiro usando o balanço por conta corrente como ferramenta de ajuste monetário que permitia manter a taxa de juro a curto prazo próxima a zero. Por enquanto, ressaltou Fukui, o banco manterá os juros nesse nível, para satisfazer o governo, mas começará a transição da política antideflacionária para a antiinflacionária.

O banco aplicará um novo mecanismo em que o índice de preços ao consumidor será fundamental para analisar a evolução da política monetária. Os membros do comitê de políticas do banco indicaram que uma inflação entre 0 e 2% seria adequada para garantir a estabilidade dos preços a médio prazo.

O Banco do Japão continuará comprando mensalmente 1,2 trilhão de ienes (US$ 10,25 bilhões) em bônus do Estado "durante algum tempo", para evitar a volatilidade no mercado dos bônus.

Embora nos últimos dias se tenha dado como certo que o banco japonês poria fim à política de dinheiro fácil, o governo via a mudança com receio. O Poder Executivo tinha pedido ao Banco do Japão que adotasse uma meta de inflação. O banco prometeu que manteria a atual política até que o Índice de Preços ao Consumidor se estabilizasse em zero ou acima de zero em relação aos números do ano anterior. Estas condições foram alcançadas em janeiro com o IPC registrando seu maior crescimento em quase oito anos, 0,5% em comparação com mesmo mês do ano anterior.

Se o Banco do Japão não mudasse sua política monetária na reunião que terminou ontem e tivesse adiado sua decisão para abril, os investidores perderiam a confiança na independência da instituição. Ficaria a impressão de que a política monetária vigente teria sido mantida por pressão do governo.

Koji Shimamoto, estrategista-chefe do BNP Paribas em Tóquio, disse que "o BJ deixou claro que não tem pressa em aumentar o juro, e isso é uma notícia muito boa para os mercados".