Título: Pressão política pode ter dividido o Copom
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

Schwartsman, Tombini e Azevedo são apontados como defensores do corte de 1 ponto

O voto dos chamados diretores não especialistas do Banco Central (BC) pode ter feito a diferença para o corte de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros. "O normal é que estes diretores sigam o voto do presidente do BC", disse um ex-integrante do Copom.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, teria sido convencido a votar pela queda de 0,75 ponto porcentual e não de 1 ponto porcentual por argumentação apresentada na reunião de 3h55min pelo diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, cujo perfil é conservador em matéria política monetária.

"Convencido por Bevilaqua, ele pode ter influenciado a decisão dos diretores não especialistas", confidenciou outro ex-integrante do Copom.

Fazem parte do grupo de não especialistas os diretores de Normas, Sérgio Darcy; de Fiscalização, Paulo Cavalheiro; de Liquidação e Desestatização, Antonio Gustavo Matos do Vale; e de Administração, João Antonio Fleury. Todos eles funcionários de carreira do BC. Na ponta oposta, podem ter ficado os diretores de Estudos Especiais, Alexandre Tombini; de Política Monetária, Rodrigo Azevedo; e de Assuntos Internacionais, Alexandre Schwartsman. "Com maior autonomia de vôo, eles podem ter argumentado em defesa do corte de 1 ponto porcentual", disse um ex-integrante do Copom.

A outra explicação possível para a divisão nos votos do Copom, de acordo com uma fonte,pode ser a pressão exercida pelo governo para a queda mais rápida dos juros.

"Participei das primeiras reuniões do Copom deste governo e sei que a pressão é muito grande", disse um ex-integrante do colegiado.

A divisão, neste caso, seria uma forma de o próprio Copom prestar contas ao governo ao dizer que pensou em cortar os juros em 1 ponto porcentual.

"A votação pode ter sido apenas um jogo de cena", comentou um outro ex-integrante do órgão.