Título: Produção industrial recua 1,3%
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

Após avanço de 2,4% em dezembro, resultado de janeiro, medido pelo IBGE, fica abaixo das expectativas

Os dados da produção industrial voltaram a surpreender em janeiro, mas por serem piores que as estimativas mais pessimistas. Após a forte expansão de 2,4% em dezembro ante novembro, a indústria iniciou o ano acomodada. Em janeiro, houve queda de 1,3% na produção ante dezembro de 2005, em desempenho pior que as projeções mais negativas dos analistas, que não esperavam resultado inferior a -0,40%.

Para o coordenador de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, os resultados de janeiro mostram uma "acomodação, após um crescimento significativo", mas não revertem a tendência de crescimento.

O economista Paulo Mol, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), vê uma atividade econômica "estável, levemente positiva, com recuperação bastante gradual e lenta".

O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sergio Gomes de Almeida, ficou surpreso com a queda, que atribui a um cenário de incertezas. "Há oscilações muito fortes, típicas de um setor que saiu do pior, mas ainda não tem uma sistemática de crescimento mais definida."

O sinal só não foi pior porque o IBGE divulgou também dados positivos, como o crescimento de 3,2% ante janeiro de 2005 - o melhor resultado em quatro meses ante igual mês do ano anterior - e aumento no indicador de média móvel trimestral, considerado o principal indicador de tendência no curto prazo.

A produção no trimestre encerrado em janeiro foi 0,6% maior do que no trimestre terminado em dezembro. Apesar da perda de ritmo em relação a dezembro (1,3%), Sales considera esse o principal exemplo de que não houve reversão na tendência de crescimento da produção da indústria.

Ele explicou que a acomodação pode refletir ainda uma normalização dos estoques. No entanto, Sales alerta que só os dados de vendas da indústria, tabulados pela CNI, a serem divulgados na semana que vem, poderão revelar a relação entre o movimento de estoques e os dados da produção da indústria. Caso a CNI aponte crescimento das vendas, poderá ser um importante sinal de reação da atividade industrial.

Sales salientou que em janeiro, na comparação com dezembro, houve queda na produção em 12 dos 23 segmentos industriais ajustados sazonalmente (sem influências típicas do período) pelo IBGE. A queda na produção em janeiro, afirma, pode indicar que a indústria não recebeu as encomendas esperadas. Mas para checar o que acontecerá com o setor a partir de janeiro é preciso ver os dados de fevereiro.

Para Mol, que divulgará na semana que vem as estatísticas de vendas da CNI, a queda "é quase uma resposta ao crescimento forte de dezembro". Nem o aumento da produção de dezembro foi tão forte quanto mostrou o IBGE, nem a queda de janeiro foi tão intensa, observa.

A CNI acredita que o primeiro trimestre será ainda fraco para a indústria. O argumento é que as empresas estão estocadas e têm o firme propósito de reduzir os estoques antes de novo aquecimento da atividade.