Título: Serra, quando sair, governa a distância
Autor: Bruno Paes Manso
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Metrópole, p. C1

Um novo cargo está prestes a surgir em São Paulo tão logo o prefeito José Serra (PSDB) renuncie ao cargo e deixe o Edifício Matarazzo para disputar o Palácio dos Bandeirantes. O vice-prefeito, Gilberto Kassab (PFL), deve encerrar a semana despachando no mais importante gabinete da Prefeitura, mas não será ele quem vai traçar os rumos da administração, pelo menos até outubro. A gestão manterá o perfil de hoje e Kassab exercerá um papel que até o PFL já classifica como primeiro-secretário - entre Serra e o restante do governo municipal.

"E isso não é demérito", explicou um líder do partido do vice-prefeito. A alguns interlocutores, Kassab deixou claro que, assumindo a Prefeitura e o terceiro maior orçamento do País, não vai mudar o rumo definido por Serra. Todos os secretários que quiserem ficar serão mantidos. "Só sai quem quiser disputar eleição ou trabalhar em campanha", tem dito a poucos ouvintes.

Publicamente, Kassab fala pouco. Ontem, acompanhando Serra, esquivou-se. "A partir do momento em que o PSDB escolheu Serra para prefeito e o PFL a mim para vice, os partidos tinham convicção de que ambos estavam preparados para desempenhar suas missões", disse.

Pois o PFL defende que a nova gestão tenha participação direta de Serra, com orientações e decisões conjuntas. Com pouca expressão na maior capital do País, o PFL vai assumir um governo bem avaliado e sabe que é melhor manter o prumo.

É uma situação interessante também para o PSDB: Serra será avaliado nas urnas pelo que deixar e pelo que ocorrer na capital até o dia da eleição. "Não teremos nenhuma mudança brusca até lá", garantiu um tucano. "Kassab não vai descumprir esse compromisso. Serra é favorito ao governo e bom relacionamento com o Bandeirantes é importante para qualquer prefeito", avaliou um vereador amigo do vice-prefeito.

Quando os pefelistas falam em manter o gabinete de Serra, incluem posições-chave, como a Secretaria do Governo Municipal, hoje ocupada por Aloysio Nunes Ferreira Filho. O tucano ainda não anunciou se deixa o cargo, para tentar novo mandato de deputado, ou se segue no Edifício Matarazzo. "A decisão é dele", disse o líder pefelista.

Se Aloysio sair, Serra vai indicar o substituto. Os cotados são dois tucanos: o também deputado Alberto Goldman, que desconversa e diz que não foi sondado, e o secretário e amigo do prefeito, José Henrique Reis Lobo.