Título: Petrobrás revê metas para o gás
Autor: Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Economia & Negócios, p. B8

A Petrobrás admitiu ontem, pela primeira vez, que terá de rever sua meta de consumo de gás natural no País nos próximos anos por conta de um crescimento na demanda maior do que o esperado. Em debate promovido pela Associação Comercial do Rio de Janeiro, a gerente geral de Desenvolvimento de Mercado da estatal, Luciana Rachid, foi categórica ao dizer que o consumo do combustível está crescendo mais do que a Petrobrás havia previsto e isso "exigirá ajustes".

A executiva não esclareceu, entretanto, qual seria o volume excedente entre o que se esperava e o que vem sendo consumido de fato. Até agora, todos os executivos da empresa sempre negaram que as metas estivessem defasadas. Segundo o planejamento estratégico da Petrobrás para até 2010, a previsão é de que o consumo cresça em média 10% ao ano, ante uma média de 20% em anos anteriores, incluindo 2005.

Na semana passada, a diretoria da Petrobrás esteve reunida em local isolado em Petrópolis, na serra fluminense, para discutir a revisão de seu planejamento estratégico. Segundo fontes, o setor de gás seria um dos destaques da revisão.

RISCOS

A meta de crescimento do consumo de gás natural no País em torno de 10% ao ano é o principal argumento da empresa para rebater previsões de especialistas sobre a falta do combustível a partir de 2008. A estatal vem sustentando a tese de que a entrada em produção do campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, em 2008, afastaria este risco. Mexilhão tem capacidade de produzir cerca de 12 milhões de metros cúbicos por dia. O detalhe que contradiz o argumento é o prazo de 45 meses estabelecido em edital para a construção da plataforma no local. O equipamento ainda está sendo licitada e só deve ter seu contrato assinado no segundo semestre.

Outra falha no cronograma da Petrobrás em relação ao atendimento à demanda nacional é o Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene), previsto para entrar em operação em2008 para transportar o gás de Mexilhão para o Nordeste, para atender às térmicas da região. O maior trecho do Gasene, de 900 quilômetros, num total de 1.400, ainda não tem licença ambiental e sequer teve seu processo licitatório concluído.

No debate de ontem, Luciana Rachid chegou a avaliar que a aceleração nas vendas de gás pode ser pontual, especialmente no que se refere ao Gás Natural Veicular (GNV). Ela argumentou que a entressafra da cana-de-açúcar dá maior competitividade ao gás frente aos demais combustíveis, ao passo que pressiona o preço do álcool para cima.

Outro ponto considerado crítico por analistas de mercado é a construção de novas usinas termelétricas, que vão usar o gás como combustível. O leilão de energia elétrica preparado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), programado para maio, deverá priorizar as usinas térmicas para atender à demanda prevista pelas distribuidoras para 2009.