Título: Condoleezza: Irã é o maior desafio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2006, Internacional, p. A16

Apesar de advertência da secretária de Estado, Casa Branca diz esperar solução diplomática para crise

A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, disse ontem numa audiência no Congresso em Washington que o Irã é provavelmente o desafio n.º 1 do país e será uma grande ameaça aos interesses americanos no Oriente Médio se possuir bombas atômicas. Para a secretária, a posse de armas nucleares será uma ameaça que poderá crescer exponencialmente pelo fato de o Irã, segundo ela afirmou, apoiar os grupos radicais palestinos e se intrometer na política iraquiana.

"Provavelmente poderemos não enfrentar nenhuma ameaça pior de um outro país, já que as políticas do Irã são direcionadas a desenvolver um Oriente médio 180 graus diferente do Oriente Médio que nós gostaríamos de desenvolver", disse ela.

Na quarta-feira, depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) encaminhou o Irã ao Conselho de Segurança (CS) da ONU, o governo iraniano advertiu que os EUA podem infligir "dano e dor" aos outros países, mas o Irã também poderá fazer isso. Um dia antes, o vice-presidente americano, Dick Cheney, alertou Teerã para "graves conseqüências" se insistir em levar adiante seu programa de enriquecimento de urânio - processo que tanto pode conduzir à produção de energia elétrica como à fabricação de bombas. O Irã sustenta que não tem um programa com fins militares.

Apesar da ênfase de Condoleezza, a Casa Branca insistiu ontem na via diplomática. "A primeira etapa no Conselho de Segurança não se centrará em sanções, mas em uma declaração forte da presidência do Conselho, definindo claramente para o regime iraniano o que deve fazer e chamando-o a tomar certas decisões", disse o porta-voz Scott McClellan.

A Rússia fez um apelo para que Teerã atenda às solicitações da ONU e alertou o CS contra tomar "atitudes apressadas", apontando para o atual caos no Iraque como exemplo de fracasso da diplomacia.

O Irã, por sua vez, reiterou que não fará nenhum acordo que implique a renúncia ao enriquecimento de urânio. O presidente Mahmud Ahmadinejad, disse que o Irã não será intimidado. Já o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, fez um chamado aos dirigentes locais para que não cedam à pressão do Ocidente. Mas recomendou "sabedoria e agilidade" ao governo.

Os embaixadores dos membros permanentes do CS (China, EUA, Rússia, França e Grã-Bretanha se reuniram ainda na quarta-feira para discutir o caso e fixar as bases de um texto, provavelmente de advertência, que seria discutido em plenário, no início da semana. .

Em Israel, a TV informou que o general Moshe Yaalon, ex-chefe do Estado-Maior de Israel, disse numa palestra em Washington que Israel possui uma opção militar para enfrentar o Irã na questão nuclear. Yaalon avaliou que um ataque ao Irã poderia ser realizado de diferentes maneiras, não só por via aérea, e permitiria retardar em muitos anos o programa nuclear desse país.