Título: Palestinos não vêem diferença entre os candidatos
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Internacional, p. A18

"Eleições em Israel? E daí?" Essa tem sido a reação de muitos palestinos diante da votação de hoje, cujos resultados vão definir o futuro do relacionamento entre Israel e o governo do grupo radical Hamas, eleito de maneira surpreendente há dois meses. De acordo com pesquisa publicada do Centro Palestino de Opinião Pública (CPOP), para quase a metade (48%) dos palestinos, nenhum partido ou candidato israelense vai ajudar a solucionar o conflito na região.

A descrença ajuda a alimentar o desinteresse quanto aos resultados da votação. Os palestinos não vêem diferenças significativas entre Ehud Olmert, do Kadima, Amir Peretz, do Partido Trabalhista, e Binyamin Netanyahu, do Likud.

"Nas eleições anteriores, estávamos muitos interessados porque a disputa era entre esquerda e direita. Agora, não tem diferença. São todos direitistas", disse o o ex-chanceler palestino Nabil Shaath.

O que incomoda Shaath e os palestinos em geral é o consenso cada vez maior entre os israelenses de que é preciso tomar decisões unilaterais, sem negociar com as lideranças palestinas. Principalmente depois da subida do Hamas ao poder.

Se o Partido Trabalhista ainda prega contatos com o presidente Mahmud Abbas, tanto o Kadima quanto o Likud não estão dispostos a negociar nem com o representante da Fatah.

Ainda de acordo com a pesquisa de opinião do CPOP, 40,8% dos palestinos acreditam que o plano de retirada unilateral israelense da Cisjordânia proposto por Olmert só vai causar mais instabilidade à segurança israelense.

Outros 31,3% são mais contundentes: as medidas unilaterais de Olmert vão causar a erupção de mais violência entre israelenses e palestinos. Se o público em geral está apático, o mesmo não se pode dizer do futuro primeiro-ministro palestino, Ismail Haniye, que luta contra o boicote financeiro e o isolamento internacional. Apelando diretamente aos israelenses, Haniye pediu que os eleitores escolham um representante que aceite negociar o fim do ciclo de violência na região. "Não queremos mais derramamento de sangue", afirmou o líder do Hamas, mesmo sem indicar de que candidato estava falando.

Em discurso ontem no Parlamento, Haniye disse estar disposto a dialogar com o quarteto de mediadores para o Oriente Médio (Estados Unidos, União Européia, Rússia e ONU). Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA declarou, em resposta, que o Hamas primeiro tem cumprir as condições estabelecidas pela comunidade internacional (reconhecer a existência do Estado de Israel e os acordos de paz firmados pela Autoridade Palestina com Israel e abandonar a luta armada).