Título: Olmert é favorito hoje em Israel
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Internacional, p. A18

Uma coisa os três principais candidatos às eleições israelenses têm em comum. Ehud Olmert (do partido Kadima), Amir Peretz (Partido Trabalhista) e Binyamin Bibi Netanyahu (do Likud) temem o alto nível de abstenção do eleitorado, que parece apático. Passado esse ponto em comum, os três principais nomes da votação de hoje não poderiam ser mais diferentes um do outro.

Quando visitou o Brasil, em março de 2005, Ehud Olmert não poderia imaginar que, um ano depois, seria o favorito ao cargo de primeiro-ministro. Na época, era ministro da Indústria e Comércio e homem forte do carismático primeiro-ministro Ariel Sharon. Mas gozava de pouca popularidade, além do desdém de muitos políticos e jornalistas. Hoje, ele lidera o maior partido do país, o novíssimo Kadima, no lugar de Sharon - em coma há quase três meses.

Se as previsões estiverem certas, o Kadima irá inovar a política israelense ao vencer uma eleição com uma plataforma de centro. Aos 60 anos, Olmert é um veterano da política israelense. Em 1973, elegeu-se deputado. Depois, foi prefeito de Jerusalém e ocupou uma dúzia de ministérios representando o conservador Likud. Nos últimos anos, servia como braço direito de Sharon, como vice-primeiro-ministro.

Apesar de toda a experiência política, o advogado com formação em filosofia e psicologia nunca teve brilho suficiente para arrebatar massas. No principal programa de paródias políticas da TV, é caracterizado como hesitante, indeciso e inseguro. E não tem o passado militar de Sharon. Passou boa parte do serviço militar como repórter do jornal do Exército, o Hamachané (Acampamento).

Exatamente por isso é que tem passado por uma visível mudança de imagem, orquestrada pela equipe de assessores e publicitários que trabalhavam para Sharon. Aproveitou oportunidades de demonstrar liderança militar. Ordenou a expulsão com vigor dos colonos do assentamento ilegal de Amona, na Cisjordânia, e a invasão e destruição da prisão palestina de Jericó para capturar os envolvidos no assassinato do ex-ministro do Turismo israelense, Rehavam Zeevi.

Em termos ideológicos, Olmert parece ter experimentado a mesma "conversão" pela qual passou Sharon. Quando prefeito de Jerusalém, foi acusado de aprovar construções ilegais judaicas em solo privado palestino, na tentativa de judaizar a cidade. Em 2003, no entanto, começou a falar - antes mesmo de Sharon - sobre acabar com boa parte da ocupação israelense de territórios palestinos. Foi um dos mentores da retirada da Faixa de Gaza e agora propõe a remoção de dezenas de colônias da Cisjordânia.

Como Ehud Olmert, o segundo colocado nas pesquisas eleitorais, o trabalhista Amir Peretz, de 54 anos, também é um novato em disputas ao cargo de primeiro-ministro. Ele é comparado por alguns analistas ao presidente brasileiros Luiz Inácio Lula da Silva por seu passado humilde e de ex-líder sindical.

Entrou na política em 1983 como prefeito, pelo Partido Trabalhista, de Sderot, no sul de Israel. Cinco anos depois, foi eleito para a Knesset. Em 1995, tomou a liderança do maior sindicato israelense (a Histadrut), à frente do qual comandou inúmeras greves gerais. Dez anos depois, fez história ao derrotar o veterano Shimon Peres nas primárias do partido, voltando a plataforma da legenda para assuntos socioeconômicos como aumento do salários mínimo e diminuição da pobreza.

Apesar da simpatia de boa parte do público, Peretz enfrenta obstáculos. É considerado despreparado em termos administrativos e não conta com um grande currículo militar. Também não é visto como estadista pelo público. Seu maior problema junto à opinião pública, no entanto, é o fato de que nasceu no Marrocos, de onde imigrou aos 9 anos com sua família. Todos os líderes históricos israelenses têm origens européias, o que agrada às elites nacionais.

Esse problema não aflige o terceiro principal candidato às eleições, o conservador Binyamin Bibi Netanyahu, de 57 anos, que sucedeu a Sharon no Likud. Netanyahu nasceu em Tel-Aviv e se mudou para os EUA aos 14 anos, onde aprendeu inglês impecável e absorveu trejeitos de políticos americanos. Em 1996, foi eleito primeiro-ministro pelo Likud. Três anos depois, no entanto, Bibi fracassou nas negociações com Yasser Arafat e renunciou, abrindo caminho para o breve retorno do Partido Trabalhista ao poder.

Bibi enfrenta o maior índice de desaprovação entre os eleitores, o que ajuda a explicar o baixo número de cadeiras que o Likud deve obter. Seu duro discurso contra concessões territoriais ou negociações com os palestinos perdeu força. Entre acusações de corrupção (das quais foi absolvido) e fofocas sobre infidelidade no casamento, perdeu apoio até de eleitores direitistas quando assumiu o Ministério da Economia em 2003, adotando medidas impopulares.