Título: Candidata, Heloísa ataca Lula
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A16

Pré-candidata do PSOL à Presidência da República, a senadora Heloísa Helena (AL) acusou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de chefiar pessoalmente o suposto esquema de corrupção investigado pela CPI dos Correios, que ela integra.

Segundo a parlamentar, o presidente, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci montaram um "processo" no qual fraudavam licitações e fundos de pensão, usavam dinheiro sem origem especificada e o trocavam por dólares, que eram mandados para paraísos fiscais.

"Se estivéssemos num país onde o Congresso Nacional não fosse um dos lados do balcão de negócios sujos", Lula não poderia continuar a ser presidente, afirmou Heloísa.

"O grande comandante de todo o esquema de corrupção articulado na máquina pública, sem dúvida, é o presidente da República", afirmou a senadora. "Sou muito rigorosa do ponto de vista ético e técnico. Tudo que eu tenho analisado na comissão parlamentar de inquérito de que faço parte mostra claramente que o grande articulador do processo de corrupção para parasitar a máquina pública e silenciar de forma cúmplice o Congresso Nacional e setores do Judiciário é o presidente da República."

Em tom irônico, Heloísa afirmou não ter visão elitista nem preconceituosa do presidente. "Quem tem passa a achar que ele não sabia de nada", ressaltou. "Como eu acho que ele é um homem brilhante, profundo conhecedor da máquina do governo, da estrutura partidária e das relações promíscuas com o Congresso Nacional, não tenho dúvidas de que ele é o grande comandante desse imenso esquema de corrupção que foi montado."

Para Heloísa Helena, que deu entrevista antes da substituição de Palocci, sua saída não muda nada, apenas pode servir para "dar oxigênio" para o governo se articular politicamente. "O que esperamos é que não haja, por parte do povo brasileiro, a banalização da corrupção", declarou. "Porque, infelizmente, a experiência do governo Lula, reproduzindo de forma medíocre a mesma metodologia das gangues partidárias anteriores, acaba por fragilizar a democracia brasileira e acaba também criando no imaginário popular essa generalização perversa: 'Deixa para lá, todos roubam, rouba mas faz.'"

A parlamentar participou de uma caminhada, no centro do Rio, e à noite foi a estrela do lançamento das pré-candidaturas do ex-deputado Milton Temer a governador do Rio e do vereador Eliomar Coelho a senador.

Apesar de exaltada por partidários como pré-candidata, foi comedida e afirmou que essa condição só se confirmaria após o congresso do PSOL, em maio. Ela também declarou que o partido só vai procurar outros partidos de esquerda, como o PSTU e o PCB, depois de fechar um programa de governo.

A senadora insistiu em que, embora considere importante conseguir votos para superar a cláusula de barreira (5% do total de votos para a Câmara, 2% em no mínimo nove Estados, que dá direito a mais tempo de TV e representação de liderança), não vai fazer nada para cumpri-la. "É uma medíocre matemática eleitoral", criticou.