Título: Para tucano, intervenção 'é Lula fora do armário'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2006, Nacional, p. A10

A oposição aproveitou o novo fogo amigo do PT contra a política econômica para dar suas estocadas. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM), disse ontem que os documentos reservados do PT pregando a intervenção no Banco Central refletem o pensamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora ele negue.

"Isso é o Lula fora do armário", comparou Virgílio. "Se ele pudesse sair do armário, diria exatamente isso." Para o senador, a política econômica ortodoxa adotada pelo atual governo ocorreu por uma "necessidade de adaptação". "Eu não sei até que ponto a conversão do presidente é definitiva", provocou.

O líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP), disse que o partido tem o direito de debater suas divergências em relação à política econômica. "Mas o presidente Lula se comprometeu a respeitar a autonomia operacional do Banco Central", ressalvou. "A autonomia é ponto fundamental da credibilidade da política monetária. Não é rompendo esse mecanismo que se vai acabar com o juro alto no Brasil."

Mercadante insistiu que o problema dos juros altos é decorrência da grande dívida pública. "O governo trabalha no sentido de reduzir essa dívida com um forte esforço fiscal e tem conseguido, o que permitiu que o juro saísse de 26,5% no início do governo para 16,5% agora", afirmou.

De Nova York, porém, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, disse que fica com "os três diretores do Conselho de Política Monetária (Copom) que votaram por um ponto porcentual de diminuição da taxa de juros".

O deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP), destacou que os novos documentos do partido não refletem a posição das instâncias partidárias. "Por isso mesmo, é material essencialmente polêmico", definiu.