Título: Governo reage a fogo amigo do PT contra Banco Central
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2006, Nacional, p. A10

Jaques Wagner diz que partido precisa ressaltar realizações do governo

O constante bombardeio do PT à política econômica e a disposição do partido em defender a mudança de rumo na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição causaram mal-estar no governo. De Nova York, onde estava ontem para apresentar à ONU o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, disse que o PT não pode fazer campanha como se estivesse na oposição.

"O partido tem o direito de debater, mas não vai dar um tiro no pé", comentou Wagner, por meio de sua assessoria. "Temos de divulgar o que o governo fez, que não foi pouco. Não se pode dizer que nada vale a pena se o juro não é pequeno."

Em dois documentos reservados do PT - um sobre conjuntura, tática e política de alianças e outro sobre diretrizes para o programa da reeleição -, o partido destaca a necessidade de puxar o governo para a esquerda num eventual segundo mandato de Lula. Trechos dos relatórios, antecipados ontem pelo Estado, tratam o Banco Central como algoz e pregam a intervenção do Planalto para que a instituição mude sua agenda a partir de 2007.

"A 'autonomia operacional' do Banco Central, maior do que em períodos anteriores, permitiu uma política monetária - revestida de um discurso conservador - que chocou-se, mais de uma vez, com as bases sociais do governo e com o próprio governo", diz o texto escrito por Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula e vice-presidente do PT.

Em carta divulgada ontem à noite no site do PT, o secretário de Relações Internacionais do partido, Valter Pomar, escreveu que o documento sobre conjuntura, redigido por ele, reflete "o ponto de vista de um grupo de trabalho" ao defender a mudança do sistema de metas do BC. "Hoje, este sistema é baseado em metas inflacionárias, somente. Propomos que as metas passem a ser de crescimento, de emprego e também inflacionárias", anotou, negando que a mudança represente intervenção. "Até porque o governo eleito, quando quer, não intervém, ele determina", argumentou.

Os documentos do PT foram produzidos por três comissões e serão apresentados ao Diretório Nacional, nos dias 18 e 19, como subsídios para a plataforma de governo.