Título: Presidente desautoriza ministro da Ciência
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2006, Nacional, p. A8

Lula nega que governo tenha definido plano sobre usinas nucleares

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem que o governo brasileiro tenha definido um plano de construção de 7 usinas nucleares nos próximos 15 anos. "O governo não decidiu", disse Lula, ao lado o primeiro-ministro inglês Tony Blair, em resposta ao Estado, único jornal brasileiro a formular pergunta na conferência de imprensa concedida na sede do governo britânico.

A declaração de Lula desautoriza o anúncio feito na terça-feira pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Resende. Entusiasmado, Resende chegou a afirmar que o governo recorreria às parcerias público-privadas (PPPs) para realizar o projeto, estimado em "alguns bilhões de dólares".

Segundo Lula, o governo apenas discute as várias alternativas para a geração de energia que capacite o País a adquirir tranqüilidade " hoje e no futuro" na área energética. Atualmente, a vulnerabilidade na produção de energia é um dos gargalos que limitam um crescimento mais acelerado da economia. "O governo discute tecnicamente todas as possibilidades para que o País seja detentor definitivo de produção de energia e que deixe o País tranqüilo para hoje e para o futuro", disse o presidente. A produção de energia nuclear, segundo ele, faz parte da discussão "porque é um tema sempre importante" e, em algum momento, o País pode necessitar desse tipo de energia. "Mas, no momento, só posso dizer que o governo não decidiu", insistiu Lula ao garantir que, quando houver uma decisão, o governo terá todo o interesse em comunicá-la.

A resposta de Lula foi cuidadosa no sentido de minimizar o impacto da declaração de seu ministro e garantir que a construção de usina nuclear "não é uma prioridade para seu governo, neste momento". De fato, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, também descartou a iminência de novos investimentos para geração de energia nuclear ao explicitar, em encontro com empresários, que a opção hidrelétrica tem mais vantagem em relação à opção nuclear. Lula reafirmou essa direção ao garantir, na entrevista, que, por enquanto, o governo está decidido a construir a Usina de Belo Monte, e a definir a construção de duas hidrelétricas no Rio Madeira. Além disso, quer garantir recursos para introduzir a biomassa como nova matriz energética do Brasil.

IRÃ

Lula evitou criticar o Irã que anunciou o reinício de seu programa de energia nuclear. O país cortou relações com a Agência Internacional de Energia Atômica Nuclear (AIEA), que fiscaliza as usinas, e começou uma queda-de-braço com os Estados Unidos. Para Lula, todos os países têm direito de construir usinas nucleares, assim como todos têm de estar subordinados aos foros que tomam decisões políticas sobre a questão. "O Brasil defende que as pessoas possam usar pesquisa nuclear para fins pacíficos. Todos têm de estar subordinados aos foros que, democraticamente, tomam decisões sobre a energia nuclear".