Título: General falou com militar do DAC para obter lugar no vôo
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2006, Nacional, p. A7

Relato da Infraero sobre o caso diverge do que diz o comandante Albuquerque

Um relato da Infraero sobre o modo como o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, conseguiu lugar em um avião da TAM, em Viracopos, na Quarta-feira de Cinzas, diverge inteiramente de sua versão e informa que um suboficial do Departamento de Aviação Civil (DAC) "recebeu determinação" do militar de que "deveria estar a bordo, pois tinha compromissos inadiáveis em Brasília." O general tem sustentado que um auxiliar já havia feito seu check-in para o vôo, que a bagagem já estava despachada e que ele não se valeu do cargo para obter tratamento especial.

Esse informe - que é habitualmente preparado pelo supervisor da Infraero cada vez que termina seu plantão de 8 horas - foi anexado a uma sindicância que está sendo realizada pelo Comando Aéreo (Comar) de São Paulo e que deverá estar pronta na semana que vem.

Segundo ele, o general não fez check-in - apenas confirmou seu vôo, por telefone, de manhã - e não teve nenhuma bagagem embarcada antes por algum auxiliar. Por fim, não confirma sua alegação de que não fez pressão para conseguir os lugares para ele e para sua mulher, Maria Antonina.

O relato, do próprio dia, informa que o general "apresentou-se para o check-in no vôo JJ-3874, juntamente com sua esposa, sendo a reserva efetivada no dia 16 de fevereiro e confirmada na manhã de hoje, com os assentos 13B e 13C". Quando se iniciava o despacho das bagagens, "o processo foi interrompido pelo sr. Alejandro Viniegra Figueiroa, recepcionista da TAM." Como havia overbooking (excesso de passageiros), este avisou que "não embarcaria a autoridade e sua esposa." Mas "(foi) acionado imediatamente o fiscal do DAC (Departamento de Aviação Civil), suboficial Agostini, que recebeu determinação do general Albuquerque, de que deveria estar a bordo, pois tinha compromissos inadiáveis em Brasília." Depois desse contato, "Agostini ligou para a torre, com o objetivo de impedir a saída da aeronave PT-MZQ". Nesse momento, o aparelho "já havia iniciado o push-back", mas "retornou para a marca R-17" (o ponto de onde começou a taxiar). O informe menciona depois as negociações com dois passageiros, Erasmo Pinto Jr. e Sandra Oliveira, que "cederam seus assentos com a finalidade de embarcar a autoridade e sua esposa".

O suboficial Agostini não quis comentar seu encontro com o general. "Estamos aguardando uma nota do Serviço de Comunicação da Aeronáutica (SecomSAer), que dará todas as explicações", afirmou ele ontem, em Viracopos. Essa nota, provavelmente, se baseará nos resultados da sindicância do Comar e só será divulgada quando o comandante Albuquerque voltar do Chile.

Na TAM, o funcionário Alejandro Figueiroa também se calou. "Só a empresa, em São Paulo, pode falar desse assunto", defendeu-se. No momento em que o general chegou ao balcão da TAM, por volta de 17h10, o vôo (que sairia às 17h30) não só estava lotado e os portões do avião fechados, como havia outras 14 pessoas na fila - o comandante e sua mulher, Maria Antonina, seriam os de números 15 e 16.