Título: Para aliados, Serra dirá hoje que é candidato à Presidência
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2006, Nacional, p. A6

Prefeito já teria avisado ao PSDB que não admite concorrer ao governo estadual e só sairia do cargo para disputar sucessão do presidente Lula

Dez entre dez serristas opinavam ontem que o prefeito José Serra dirá hoje ao triunvirato que coordena a escolha do nome do PSDB para disputar a Presidência que aceita ser o candidato do partido mesmo sem a certeza de contar, de antemão, com o apoio do governador Geraldo Alckmin. Serra sinalizou ao comando do PSDB que não aceita ser candidato ao governo estadual e só sairia da Prefeitura para concorrer à Presidência. Nos últimos dias, pesquisas feitas por aliados do prefeito indicaram que ele é favorito num confronto com Marta Suplicy, a mais forte candidata do PT ao governo estadual.

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), já deu por encerradas as consultas no partido: já ouviu todos os governadores e anteontem conversou com os principais líderes do partido no Congresso. Tasso definiu três pontos que devem ser atendidos na reta final da escolha do candidato tucano: 1) a unidade partidária é fundamental e todos no partido reconhecem isso; 2)a decisão não pode se arrastar mais; e 3) todos terão de acatar a decisão.

Hoje o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Aécio Neves amanhecem em São Paulo, para onde Tasso viaja de manhã. No correr do dia o triunvirato que reassumiu a coordenação da escolha do candidato tucano se reunirá com Serra e Alckmin.

"ELEIÇÃO CURTA"

A desistência de Serra de concorrer ao governo estadual reativou seu favoritismo para a Presidência, reforçado por novidades dos últimos dias. A principal delas é a manutenção da verticalização, que transforma a disputa presidencial no que o jargão político chama de "eleição curta", com forte tendência de virar um mano a mano entre PT e PSDB e de ser resolvida no primeiro turno, já que uma candidatura do PMDB se inviabiliza. E numa "eleição curta", com chance de ser resolvida no primeiro turno, é indispensável que o candidato tenha vitalidade eleitoral no início da campanha. Serra, sem estar na disputa, está em empate técnico com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A conclusão do comando partidário é de que Alckmin tem chance contra Lula se houver segundo turno, mas suas chances se reduzem numa disputa mano a mano, que tenha alta probabilidade de ser decidida no primeiro turno. O temor dos tucanos é de que, se Lula disparar na frente, poderá haver nos Estados a debandada de aliados que geralmente acontece quando candidatos a cargos executivos não mostram viabilidade eleitoral no meio da campanha.

Ontem, pela primeira vez, Alckmin e Serra conversaram sobre candidatura, mas não chegaram a um acordo. "Foi uma boa conversa. Estamos chegando ao epílogo", contou Alckmin. Hoje, mais uma vez, o triunvirato tentará impor uma decisão negociada aos pré-candidatos. Fontes próximas ao comando partidário revelaram que a primeira opção do triunvirato será pela indicação de Serra como candidato, principalmente porque ele teria chance de vencer a eleição no primeiro turno.

As mesmas fontes asseguraram que o triunvirato vai dizer a Serra que todos depois se empenhariam em convencer Alckmin a apoiá-lo. Se na reunião o prefeito disser que aceita disputar a Presidência sem o apoio antecipado do governador, será ungido candidato; se disser que não aceita, é muito provável que Tasso encerre a conversa e passe à sala ao lado, onde selará a candidatura Alckmin.