Título: Ele irritou o PT, mas agradou ao mercado
Autor: João Domingos e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A4

O médico sanitarista Antonio Palocci Filho foi a maior surpresa do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Quando o mercado tremia diante da perspectiva de uma gestão econômica irresponsável e populista, Palocci foi a dose de calmante que faltava. Reafirmou as linhas de responsabilidade na gestão do caixa público e, com isso, conquistou confiança e admiração dos mercados nacional e internacional. Só não fez sucesso entre petistas, que passaram a bombardear a política econômica.

O verniz de credibilidade que ele deu ao governo petista, porém, transformou-se no capital mais precioso de Lula. "Graças a Deus que tem o Palocci", desabafou o presidente no ano passado, num momento de impaciência com a falta de resultados concretos de seu ministério.

Os bons resultados da economia colhidos em 2003 e em 2004 elevaram tanto o moral do então ministro da Fazenda que ele passou a rivalizar com o à época ministro da Casa Civil José Dirceu. Palocci, por vezes, intrometeu-se na seara de Dirceu na articulação política. Como troco, Dirceu criticava a ortodoxia da política econômica.

A troca de farpas era a parte visível de outra disputa: a do posto de eventual sucessor de Lula na Presidência. Dirceu era antigo integrante do círculo de relacionamento mais próximo de Lula, por isso já estava naturalmente entre os seus prováveis herdeiros eleitorais. Já Palocci vinha de uma bem-sucedida carreira como político em Ribeirão Preto, mas só chegou às altas rodas petistas por uma fatalidade: o assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.

A morte elevou Palocci ao posto de coordenador da campanha presidencial de Lula. Abertas as urnas e consolidada a vitória de Lula, Palocci coordenou o processo de transição com o governo Fernando Henrique Cardoso. Nesse período, consolidou a boa imagem que já se formava entre os agentes econômicos. Uma mostra foi dada em novembro de 2002, quando recebeu um emissário do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O prestígio exibiu seus primeiros arranhões em setembro de 2004, quando o Banco Central começou sucessivamente a elevar a taxa de juros. Em agosto de 2005, o advogado Rogério Buratti revelou esquema de desvio de recursos na gestão de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto. Desde então, o ministro foi perdendo força no governo.

Isso ficou claro em novembro, quando a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ganhou a parada na disputa pelo comportamento dos cofres públicos. Contra Palocci, que queria fazer superávit primário elevado, prevaleceu a opinião de Dilma, que pediu para gastar até o ponto em que a meta não ficasse comprometida.