Título: Delegado de Ribeirão diz que pode indiciar o ex-ministro
Autor: João Domingos e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A4

Benedito Antonio Valencise, o delegado que comanda a Polícia Civil em Ribeirão Preto, disse ontem que está com o caminho aberto para enquadrar criminalmente Antonio Palocci, inclusive por formação de bando ou quadrilha. "Agora fica mais fácil para a gente investigar", disse o policial, após ser informado do pedido de demissão do ministro da Fazenda. "Confirmada a demissão, não há mais nenhum tipo de empecilho."

Ele não afastou a possibilidade de ir à Justiça representar pela decretação da prisão preventiva de Palocci. Mas disse que "por enquanto" não vai falar nessa medida. "Não vamos cogitar essa hipótese agora."

A meta de Valencise é convocar Palocci para interrogá-lo no inquérito que apura supostas fraudes nos serviços de varrição de ruas e coleta de lixo, contratados na gestão do petista (2001/2002) e de seu sucessor, Gilberto Maggioni, que ficou no cargo até 2004.

"Não havendo mais vínculo (de Palocci) com o Ministério da Fazenda, não existe mais foro privilegiado", destacou o delegado. "Ele pode ser intimado para ser interrogado e até mesmo indiciado criminalmente."

O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo César Rebello Pinho, confirmou que Palocci perde o foro por prerrogativa de função na área criminal. "Ele não vai mais responder perante o Supremo Tribunal Federal, passa a responder como qualquer cidadão. Se for indiciado vai ter que recorrer à Justiça estadual, não pode ir direto ao STF."

Valencise disse que já dispõe de "provas muito claras" contra Palocci e sua equipe. Ele pretende indiciar o ex-ministro e seu grupo por peculato, falsidade ideológica, corrupção e formação de bando ou quadrilha. "Quando mais de três pessoas se reúnem para a prática de vários crimes, com atuação de permanência, fica bem caracterizada a ação da quadrilha", observou o policial. "Esse pessoal, em número elevado, agiu por quatro anos aqui em Ribeirão Preto."

"As provas são evidentes, não só com relação a ele (Palocci) como em relação a vários da sua equipe", sustentou Valencise. "Eu disse à CPI dos Bingos, diante da pergunta de um senador, que se fosse minha atribuição eu indiciaria o ministro. Existem dados e provas de clareza meridiana que demonstram o envolvimento do então prefeito com os fatos ocorridos. O indiciamento é ato que depende do delegado."

O foco do peculato e da corrupção, segundo a investigação, era no Departamento de Água e Esgoto (Daerp), na época dirigido pela engenheira Isabel Bordini, hoje no comando da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal. A autarquia municipal contratou a Leão Leão, maior doadora de campanha de Palocci, na eleição de 2000. A polícia estima que o prejuízo pode ter alcançado R$ 22 milhões.

O vereador Nicanor Lopes (PSDB), que rastreia negócios sob suspeita da gestão Palocci, disse que espera "que a Justiça faça com Palocci o que ele quis fazer com o caseiro Nildo".