Título: Para oposição, troca no comando da Fazenda não encerra a crise
Autor: Vera Rosa e Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A6

Aliados e adversários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso concordam em pelo menos um ponto: a demissão do ministro Antonio Palocci pode até pôr um ponto final no caso da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, mas não trará paz ao governo. "O que debela crise não é uma demissão, mas a ausência de fatos que comprometam o governo", avaliou ontem o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

"Há fatos graves neste governo todos os dias e o papel da oposição é continuar cobrando respostas", acrescentou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Pouco depois da queda de Palocci, o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) deu mostras de que vai reforçar a artilharia contra Lula. "Não é possível que o presidente continue dizendo que não sabe de nada. A crise é gravíssima", avaliou.

Aliados do governo também estão convencidos de que a pressão deverá continuar. "O presidente Lula não terá sossego porque o papel da oposição é criar embaraços para o governo", resumiu o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB).

Suassuna não tem dúvida de que, se caiu um alvo, a oposição escolhe outro logo - mas diz não acreditar que Lula seja o próximo. "Não será o presidente porque se cria uma crise institucional e isso a oposição não quer."

O deputado Rodrigo Maia observa ainda que a imagem do governo Lula dificilmente se livrará da marca de violação do sigilo bancário. "O fato é que a sociedade brasileira o demitiu ao mostrar que não dá para vivermos numa república de bodes expiatórios", completou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

"Temos de viver em uma república de culpados comprovados e de inocentes verdadeiros. Foi uma lição democrática que o nosso povo maduro ofereceu ao desastrado governo do presidente Lula", disse o tucano. "Foi a vitória do Davi contra os Golias do governo, porque, numa sociedade democrática como a nossa, o ministro foi demitido pelo humilde caseiro que ele e auxiliares tentaram intimidar."

Para o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), a demissão de Palocci representa "a remoção de mais um entulho do governo Lula". "Agora, resta apenas a retirada do último entulho deste governo, que é o próprio presidente, com a derrota nas urnas." O PFL é um dos principais aliados do maior concorrente de Lula na próxima eleição, o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.

Na avaliação de Bornhausen, a demissão do ministro não deverá arrefecer os ânimos da oposição quanto às investigações da quebra ilegal de sigilo do caseiro. "Os responsáveis terão de pagar e as investigações terão de continuar."